Leonardo Almeida Filho
Em seu último livro, “Cânticos para enlouquecer Cristo” (Penalux, 2024), fica evidente que a poética de Fernando Andrade é como uma granada que explode, se fragmenta e desconcerta.
Um cristal que se estilhaça como linguagem no chão da consciência, partindo-se em mil pedaços que, por sua vez, refletem a multireferencialidade do seu criador, aliás, essa é uma das características de sua escritura, a costura de multireferências pop, filosóficas, musicais. A poesia do bardo carioca é, no mínimo, um grande liquidificador da pós-modernidade, trazendo à baila suas leituras, sua loucura, o espanto, o estranho freudiano para a sala de jantar, incomodando Cristos, assim, no plural, em sua faceta demoníaca, no sentido ctoniano mais profundo, abissal. É justamente de lá, das profundezas do espírito, que são construídos seus versos, que primam pela quebra de qualquer parâmetro da lógica racional contemporânea.
Um texto de Fernando Andrade sempre nos passa sempre a impressão de um surto, de um encavalamento, de uma possessão e, não por outro motivo, quero crer que o bardo é uma espécie de Souzândrade neo-barroco, incompreendido em suas referências e circunvoluções paradigmáticas. Acredito que a tendência da poética fernandradiana é a evanescência, como meta e o dissolver-se, como processo, como ele mesmo declara “todos os objetos e as coisas nos seus devidos lugares terão um deslocamento de sentido não havendo texto, nem esta poesia?” Sua poesia é a arquitetura do incômodo, do estranhamento, do desassossego e continuará incomodando Cristos e Diabos na literatura brasileira.
Brasília, 1 de maio de 2024
Leonardo Almeida Filho, escritor
Be the first to comment