Fernando Andrade entrevista o escritor Diego Ruas sobre o livro ‘Chegar ao fundo do osso’

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Fernando Andrade – Entre o reflexo e o corpo e suas vísceras, órgãos, sangue existe a palavra que nos molda até a carne. Seu livro especula sobre os desastres que perdemos-ganhamos, neste mundo pós-moderno. As celebridades, os selfs, aqui o escritor parece não saber para onde ir. Fale um pouco disso no seu livro.

Diego Ruas – Meu terceiro livro representa um amadurecimento na minha linguagem poética. Foi também um campo de experimentações para os poemas visuais, a musicalidade e a oralidade, já presentes nos meus livros anteriores. O título, “Chegar ao Fundo do Osso”, propõe movimento, ir ao fundo, chegar em lugares onde talvez não sabemos para onde ir. Mas é parte da jornada de viver. Reconhecer a própria imagem no espelho, saber o que toca e arrepia a pele, o que atravessa a carne, o que está impregnado nos ossos. Por isso o caminho que proponho na leitura da obra passa pelas quatro Partes, em sequência: Espelho, Pele, Carne e Osso. Ser um poeta contemporâneo é expressar a contemporaneidade caótica deste mundo caótico à sua maneira, ao seu estilo. O poeta é só um radar.

Fernando Andrade – Tua linguagem é seca é afiada feito uma faca de destrinchar ou destripar sentidos que a modernidade nos atola com excesso de informações, fato ou ficção. A ironia seria uma arma para o escritor. Comente.

Diego Ruas – A ironia está presente em vários poemas. Mas é mais uma das figuras de linguagens poderosas que uso na minha obra. A repetição, a rima, o palíndromo, a metáfora, a onomatopéia, são outros dos muitos recursos que uso na artesania do verso, e que a linguagem me oferece, mesmo subvertendo suas duras regras. Brincar com as palavras para que elas comuniquem, em infinitas possibilidades, os meus sentimentos diante do mundo. Acredito que lapidar o verso é o que o faz afiado como um diamante, que corta até o cabra mais embrutecido.

Fernando Andrade – Chegar ao fundo do osso, seria não só nos manter em pé, mas chegar à infinitude da morte, dos ossos que sobram da terrena existência dos mortais. Comente.

Diego Ruas – Na última Parte do livro, “Osso”, é o encontro do poeta com algumas das perguntas mais essenciais da humanidade. Aquelas que nos fazemos quando olhamos para cima, e mesmo no fundo do poço, enxergamos nas estrelas algum sentido. Algumas já deixaram de existir, mas continuam brilhando para nós. Diante da morte, as pedras gritarão e a luz de cada um, cada uma, continuará aquecendo os corações que ficarem. Viver é galopar o destino, amá-lo, e aceitar o além, confiar no inesperado.

Fernando Andrade – Há um perene senso de coletivo nos seus poemas, algo que vai além da solidão de um autor em contato com o mundo que ele… Comente.

Diego Ruas – Como disse em outra pergunta, o poeta é um radar, capta o mundo ao redor com os sentidos e os reescreve com seu inventário de palavras, vivências e culturas. Para mim, estar vivo é perceber o mundo com empatia. Não sinto que haja outra possibilidade na minha escrita que não passe também pelo coletivo, pela percepção da desigualdade, da destruição da liberdade e da solidariedade. Um outro mundo é possível, e eu canto mesmo que faça escuro, como repetia o grande poeta amazonense Thiago de Mello.

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