Fernando Andrade entrevista o escritor Elias Fajardo 

Elias Fajardo - Fernando Andrade entrevista o escritor Elias Fajardo 

 
 
 
 
 

Fernando Andrade -)  Escrever, ler, ensaiar aqui no sentido de estudar outros autores,  há uma relação íntima entre cada parte de ação, vamos dizer assim intelectual. Como é este seu processo entre o leitor, o  escritor e o crítico? 

Elias Fajardo -)  Escrevo para mim mesmo, para me expressar e me colocar diante da vida e do mundo. Mas escrevo pensando nos leitores, desejando que as palavras cheguem a eles com intensidade. Acredito que o mais importante é o que acontece entre o leitor e o texto, e não o que ocorre entre o autor e o leitor. E procuro me aproximar e conhecer a obra daqueles escrit6ores que me falam à mente e ao coração.

Fernando Andrade -) Como foi a seleção dos autores a serem estudados. Como foram os critérios para a escolha de cada um deles?

Elias Fajardo -) Estes ensaios foram escritos e publicado s originalmente na coluna Ensaios Literários no blog Quarentena News, criado pelo jornalista Jorge Antonio Barros durante a pandemia. O primeiro foi sobre João Cabral de Melo Neto, cuja obra andei lendo para tentar aprofundar meu conhecimento de poesia, este gênero tão fascinante e difícil de ser abordado. Depois parti para Mario Quintana, que entrevistei por telefone e segui o conselho dele: em vez de focar na entrevista, me debruçar sobre a obra e assim fui achando o fio da meada. Gilka Machado me chamou a atenção não só pela qualidade de sua poesia amorosa, mas também pela sua vida de mulher corajosa, sempre disposta a vencer desafios.
José Lins do Rego é um grande escritor regionalista e “Menino de engenho” um romance de formação fascinante, que rendeu um filme igualmente interessante.
De Mario de Andrade escolhi fazer um ensaio sobre “Amar: verbo intransitivo”, que trata do romance entre uma professora alemã e seu discípulo adolescente.
A linguagem inovadora de Mario me encantou. Quanto a Clarice Lispector escolhi me aproximar dos contos, que são ágeis e ao mesmo tempo aprofundados sobre a condição humana. Murilo Mendes viveu a maior parte da sua vida fora do Brasil e merece ser melhor conhecido e apreciado pela qualidade de sua obra. Ferreira Gullar é muito conhecido e louvado pela sua posição política e ética. Me interessei mais pela sua maestria poética. Oscarito é o único não escritor desta série. Escolhi falar dele pela grande contribuição que deu à nossa cultura, na medida em que foi um dos criadores do gênero chanchada, uma comédia tipicamente brasileira. Entrevistei o mestre Paulo Freire e fiquei encantado com a sua visão de mundo generosa e por isto o incluí entre os autores abordados. Também entrevistei Cacaso, a quem admiro muito pela qualidade de seus versos e sua visão inovadora. Pena que nos deixou tão cedo. Finamente fiz um ensaio sobre contos e nele tratei da obra de Adriana Vieira Lomar e José Petrola, cuja escrita ajuda a abrir novos caminhos para este gênero literário.

Fernando Andrade -) Os trechos escolhidos por você de cada autor debatido, ajudam muito, na síntese que cada leitor faz, a partir da sua leitura da obra dos escolhidos, numa teoria da recepção do livro. Comente. 

Elias Fajardo -)  Procurei escolher obras e trechos de obras que não fossem os mais conhecidos e analisados. A tentativa foi abordar aspectos pouco abordados que aproximem o leitor de autores que têm muito a nos dizer. Como diz Gilberto Gil, na vida estamos sempre ensaiando, abrindo perspectivas para o ato de criar. Escolhi o ensaio porque é um tipo de texto que expõe ideias e pontos de vista do autor sobre determinado tema ou autor, buscando a originalidade do enfoque sem pretender explorar o tema de forma exaustiva.

Fernando Andrade -) Vida e obra ajudam a entender muito a cabeça de um autor na hora de falar sobre seus livros. Fale um pouco sobre isso.

Elias Fajardo -) Comecei a escrever na década de 1970, fazendo contos. Desde então a literatura tem me acompanhado e me ajudado a ultrapassar momentos difíceis.
Acredito que as crises são bem vindas, pois são circunstâncias que nos ajudam a remover os obstáculos. Para mim a escrita é um ato de resistência, uma maneira de nos colocar no mundo e refletir sobre os acontecimentos com que nos deparamos em nossas trajetórias.

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