Fernando Andrade entrevista a escritora Maiara Líbano

Maiara Libano - Fernando Andrade entrevista a escritora Maiara Líbano

 
 
 
 

Fernando Andrade – Não poderia dizer que seu livro e um ode subversiva ao sistema. Mas tem muito de crítica social, sátiras à sociedade. Como você pensou esta obra para suas reflexões. Explane um pouco.

Maiara Líbano – Sempre digo que diante do país que vivo não conseguiria ficcionalizar sobre algo alheio à questão de classe. De alguma forma essa dualidade está presente em todas as histórias. Eu vejo racismo e questão de classe em tudo. A atmosfera do livro se passa sobretudo no Rio de Janeiro que, ao meu ver, é uma espécie de caldeirão em que tudo se acentua: a violência extrema, a tensão permanente, a banalização da miséria, a hipocrisia da elite cultural e econômica. O carioca está à beira de um ataque de nervos todos os dias, e isso me inspira bastante.

Fernando Andrade – Você tem uma pegada de humor que é milimétrico para cada situação de conflito ou drama. Me Fale um pouco do humor na sua escrita.

Maiara Líbano – Acho que as histórias do livro se dividem entre tragédias e comédias e algumas delas são as duas coisas ao mesmo tempo. Acho que o humor nos salva da loucura. Ou então o inverso, ele nos enlouquece um pouco para nos anestesiar da barbárie do dia a dia. Acho que se não rirmos de nós mesmos a brutalidade do mundo nos amargura de vez.

Fernando Andrade – O ultimo conto faz uma espécie de síntese da obra toda. A pichação como forma de contestação ao sistema, ao status quo. A ironia do título funciona bastante na obra. Me fale um pouco da ironia nos seus contos.

Maiara Líbano – Uma das minhas maiores inspirações para este livro foi Nelson Rodrigues. Eu adoro Nelson, acho atualíssimo, cirúrgico, polêmico, e sobretudo, um feroz defensor da liberdade do pensamento. Além de ser o maior narrador sobre o universo carioca. Vivemos uma era de muita vigilância, cancelamento, bullying, patrulhamento ideológico, etc. Para que a literatura continue a ser o terreno da liberdade, temos que deixar que os personagens falem. Sem subestimar o leitor, sem tecla SAP, abandonar o leitor sozinho na sala com o personagem. Então a ironia é um recurso interessante, traz o leitor para perto. Mas no meu processo de escrita a ironia acaba sendo algo natural, nem tanto reflexivo, é a lente que eu uso para a minha visão de mundo.

Fernando Andrade – Me Fale um pouco sobre o Clube da Leitura onde alguns dos seus contos começaram à ser escritos. Foi um laboratório para criação.

Maiara Líbano – Total. Faço parte do Clube da Leitura desde 2013. Na verdade, a primeira vez em que estive numa reunião do Clube foi no fim de 2012 na época dos bueiros voadores de Copacabana. Adoro a ideia de que esse episódio bizarro me levou para dentro do comércio mais próximo, e que vinha ser o sebo Baratos da Ribeiro que na época ficava mesmo na Rua Barata Ribeiro (ele continua com esse nome, mas mudou de endereço diversas vezes). Achei legal aquele encontro de pessoas excêntricas lendo contos e passei a frequentar. Desde então, cultivo boas amizades e sempre enxerguei ali um verdadeiro laboratório de criação. Alguns contos do livro, inclusive, passaram pelo Clube. O compromisso de, quinzenalmente, escrever contos inspirados em motes variados foi um ótimo exercício literário.

 

Maiara Líbano nasceu no Rio de Janeiro em 1986. É mestre em Comunicação pela puc-Rio. Faz parte do coletivo literário Clube da Leitura desde 2013. Foi produtora e roteirista do programa literário Trilha de Letras da tv Brasil. Nos últimos anos, já atuou como mediadora em debates na Flipoços, Flist, Flipei e LER Salão do Livro. “Área reservada para pichadores amadores” é seu livro de estreia.

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