Fernando Andrade | escritor e jornalista
Como equiparar uma presença tão forte como uma paternidade defronte o luto ou a falta do pai. A ficção pode incluir através de palavras ou da falta delas, o dia-escuro do luto, o caminho à frente, com seus próprios passos não digo dos movimentos musculares, mas sim da cabeça que guarda pensamentos, reflexões, e lembranças. João Paula em seu novo livro, uma novela de suas 70 páginas ‘Nossa parte do tempo’, editora Penalux, aproxima ao leitor toda a dor de um filho que fez da vida do pai trilha arte companheiro, vivências mutuas, mãos dadas, o símbolo casa dividido entre lar e afecção.
O autor burila uma narrativa tão precisa quanto poética, fazendo o texto funcionar quase com um cristal fractado, em milhares de prismas\olhares, escolhendo o caminho do pormenor, das lidas familiares, da linguagem-ausência que transmuta em beleza; em vibração através do calor do texto, sempre melódico, com nuances sentimentais do viver junto ao pai, na caminhada da infância, no terreno baldio da adolescência. João deixa o leitor às vezes, refletido em identificações sobre família e paternidades. São rastros que todos um dia farão algum dia alguns escreverão sobre, outros ainda farão uma trova, muito apenas, adotarão apenas o silêncio do corpo recolhido.
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