Fernando Andrade entrevista o escritor Mariel Reis sobre o livro ‘Extravios’

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Fernando Andrade) Teu livro de contos é um baita exercício de escrita, de prática textual muito bem feita. Experimentação com a linguagem, em concisão, precisão, clareza e sugestão. Como desenvolveu este projeto? Comente.

Mariel Reis) O meu objetivo era o resgate de uma literatura alusiva baseada nas alegorias de livros religiosos em que a concentração da linguagem não elimina a sugestão mas a potencializa quando apela à polissemia da palavra somada aos seus arredores. O projeto foi desenvolvido dentro desse vetor em que as narrativas mítico-religiosas apoiadas nas populares convergem em seu caráter perene. É também uma reação à literatura atual com caracteres sociológicos sobrepostos à ficção.

Fernando Andrade) Alguns contos falam de aspectos do conto-fábula, onde o universo infantil se desenvolve fluentemente. Fale um pouco disso.

Mariel Reis) A busca de reação à agenda da literatura brasileira atual forçou-me a buscar uma ficção com raízes populares sem abdicação da sofisticação. O trabalho de Angela Carter apontou um caminho dentro da cultura popular sem rendição ao nosso realismo soviético peculiar derivado da agenda woke impulsionada por diversos organismos. A utilização dessa forma tem uma função pedagógica contundente e quer, sem panfletarismo, discutir o lugar da literatura, sem a aparência de um sermão, revoltando-se, em alta voltagem, contra seu rebaixamento.

Fernando Andrade) O insólito; o fantástico, abrem lacunas no seus contos de forma bem sutil e até enigmática. Como trabalhou estas relações entre o maravilhoso e surreal.

Mariel Reis) As leituras das narrativas mítico-religiosas além da ficção de Murilo Rubião me forneceram modelos aos quais estudei com afinco e tentei – palavra importante – dar um passo adiante dentro da paradoxalidade de ambos os objetos. A palavra ambiguidade era um norte seguido também com desconfiança porque poderia pôr a perder o entrecruzamento dos limites entre o maravilhoso e o surreal. Ao final, depois de uma consulta aos primeiros leitores, pareceu equilibrado o resultado.

Fernando Andrade) Há um grande subtexto, nos espaços de criação do leitor, na sua imaginação. Como deixou estas belas imprecisões nos espaços em branco da narrativa.

Mariel Reis) É uma felicidade constatar a visibilidade desse efeito pretendido que custou bastante cálculo porque os modelos de escrita dessa natureza em nosso país são escassos. E o conto também obedece mais em sua forma ao século retrasado e passado sem uma experimentação de linguagem prejudicial à legibilidade. Nesse quesito, a poesia está melhor. Nesse campo, o respiro nesse registro indicou o caminho para os espaços referidos.

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