Livro cujo gênero se mistura  “Eu me chamaria Antônia” é um passeio pela linguagem pura do afeto | Fernando Andrade

Salinê - Livro cujo gênero se mistura  "Eu me chamaria Antônia" é um passeio pela linguagem pura do afeto | Fernando Andrade

 
 
 
 
 

Fernando Andrade | escritor e jornalista

O Eu é indizível porque parece fractal. Através da linguagem não é apenas a expressão do comunicado. Há estética, música, jogos com a língua.
Por isso certos textos quebram uma possível classificação normativa.
Entram em janelas interfaces onde forma e conteúdo ora se juntam, ora se afastam. Quando li o livro agora sem me preocupar como seu gênero, Eu me chamaria Antônia, Salinê, editora Penalux, Vi que há como Pirandello uma busca por autor que bem poderia ser uma persona até do teatro. Salinê desmonta através de textos livres e soltos sem uma amarração temática mas talvez estilística. O que procuramos na capa de um livro, uma identidade autoral.
Mas se o autor se fragmenta em seus textos numa porosa vacuidade temporal e espacial. Nem diria que o livro serve de um divã da escritora para falar, falar o que vem do Self ou do ego. É um trabalho (des)academizado, pois não tem margens, quase um labirinto onde o leitor pode se embaralhar na leitura percorrendo, poemas, prosa poética, ensaios. A linguagem é puro sintoma de estado de alerta, de estar presente, neste exato momento se expressando com o outro. Salinê talvez, se aproxime do jogo teatral onde a palavra é um bacante, uma dança dionisíaca, com o vinho, o prazer, a fome. Esta incessante liberdade da forma de ser múltipla, poliédrica, nos chama atenção para a multiplicidade que é Salinê.

Please follow and like us:
Be the first to comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial