Fernando Andrade | escritor e jornalista
Tateamos a solidez do chão quando estamos na infância. Nossos pés ainda são pequenos perante a largura do mundo. Curiosa é a criança que se movimenta em busca de suas respostas. Um pedaço de céu, a pequenez da brancura de uma nuvem. Não temos orientação quando nossos marcadores sexuais ainda não nos completam. Mas temos nossas fantasias, sobre nossa mãe e nosso pai, a companhia longe-perto dos avós. Esta falácia que a criança passiva tenderá a ser algo mais que reprimida. A repressão vem de todos os clãs por que viver junto requer obediência e respeito.Assim Igor personagem do romance Fio da seda, 7 letras, começa a ver seu universo tanto interior quanto o universo do entorno familiar.
Famílias trazem ou a pura identificação ou um fruto de isolamento na solidão.
Igor está perto de Sérgio e Leda,dos avós tios, tem uma casa em Teresópolis, mora no bairro do Leblon, onde circula pelos arredores do bairro.
Não existe explicação para solitude de igor, logo se interessa por arte, pela sublimação de um ato de absorto ver um quadro e der ler um livro. Não é um fora do mundo, por que não há ainda um despertar da sexualidade, quando se está com 8 ou 9 anos. Igor não é frágil, sua curiosidade o impulsiona à frente, descobrindo a si mesmo e afrontando seus medos. Jorge Sá Earp, constrói um belo romance de formação de como a identidade se forma como um cristal se faz com o passar do tempo.
O tempo para Igor com desenvolvimento do corpo, seus hormônios, seu fluidos, são ponto de ebulição do ser ou do seu ser na entrada da vida real, sem fantasias, embora sonhos permaneçam por longo caminho.
Jorge faz esta longa trajetória com uma rica formação de filmes, livros, e o que arte traz de identificação com relação às amizades. O diário escrito com suas memórias e desejos é lido pelos pais que o questionam quem é você, perante nossa célula de sobrevivência. O ato em sim homoerótico é um salto para libertação, porém Igor não quer espaçar os laços com os pais, embora a força do desejo o empurre para frente para corpo e suas pulsões.
Numa linguagem cheia de nuances sobre o homoerotismo, Fio de seda nos faz ouvintes atentos ao sair do lugar de conforto para uma fase adulta cheia de possibilidades de autoestima e respeito por si mesmo.
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