Fernando Andrade entrevista o escritor Jorge Sá Earp

Jorge Sá Earp 2 - Fernando Andrade entrevista o escritor Jorge Sá Earp

 
 
 
 
 
 

Fernando Andrade: O espaço geográfico, os bairros, Leblon, Teresópolis, dão uma referência à classe social da qual personagem se insere. O ambiente social nos forma um pouco, como se dá isso na personalidade do Igor. Comente.

Jorge Sá Earp: Posso dizer desse “romance”, exatamente o que Flaubert afirmou sobre a protagonista de Madame Bovary: Igor sou eu. Escrevi “O fio da seda” entre 2007 e 2008. Há muito tempo que eu vinha planejando escrever um romance autobiográfico, o título mesmo tendo nascido na minha adolescência, época em que eu estava vivendo os acontecimentos descritos na segunda parte do livro. Mas resolvi escrevê-lo na terceira pessoa. Por isso, Igor é sim um personagem nascido e criado na classe média da zona sul do Rio, e o ambiente que o cerca evidentemente influenciou muitas de suas atitudes.

Fernando Andrade: Ao contrário do seu livro anterior Amarras, esta mantém mais um tom de delicadeza, focando na afetividade do personagem em relação à família. Como você pensou na psique de Igor? Fale disso.

Jorge Sá Earp: Escrevi O fio da seda antes d’ As amarras. Na época havia pessoas – modelos de meus personagens -, que ainda estavam vivas. Por isso, resolvi esperar sua publicação para mais tarde. Por outro lado, como você bem diz, há n’ O Fio da Seda mais delicadeza e suavidade do que n’ As amarras, já que esse livro tenta recuperar o longínquo país da infância. E o da adolescência. Duas terras perdidas e restauradas pela memória. Como todo ser sensível, Igor sente nostalgia desses dois paraísos (às vezes nem tão paradisíacos assim) arrastados pelo tempo.

Fernando Andrade: As artes despertam em Igor uma fonte de sublimação de seus mecanismos interiores. Sua sexualidade se consolida com o interesse da literatura, música, e outras artes, Comente.

Jorge Sá Earp: A arte, em suas mais diversas manifestações atraem Igor. Num momento, ou em mais de um momento, ele diz que nunca publicou um livro ou qualquer escrito seu. Aí ele difere de mim. E essa diferenciação foi conscientemente inserida no livro. Mas creio ser a única. Sim, a arte é parte intrínseca do universo de Igor e, como disse, em todas suas manifestações: música, pintura, literatura, cinema. Só sinto não ter incluído algumas peças musicais como o Adágio para cordas de Barber e Gaspard de la Nuit de Ravel. Acho que fariam uma boa trilha sonora.

Fernando Andrade: Você teve um cuidado maior com linguagem mais próxima à acuidade com seus personagens. E um livro mais nuançado, nas suas camadas.Como foi esta sua experiência com a escrita deste livro. Aborde isso.

Jorge Sá Earp: O tom do livro surgiu juntamente com a atmosfera que eu pretendi criar: a infância e o início da adolescência. Bem mais lírico – digamos assim – do que o tom satírico de As amarras, cujo protagonista é um cínico. Não foi nada intencional, quero dizer, deliberado: o romance foi-se fazendo, como acontece em todas as minhas narrativas, sejam elas curtas ou longas. Ou talvez mesmo uma deliberação inconsciente, para usar um paradoxo.

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