Fernando Andrade entrevista a escritora Márcia Barbieiri

Tempo de cão - Fernando Andrade entrevista a escritora Márcia Barbieiri

 
 
 
 
 

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Fernando Andrade -) A voz do seu narrador tateia o fundo da linguagem em busca de afeto, não dado pelos homens. Como você trabalhou essa voz? Como uma escuta interna que prediz a falta, a solidão entre outras?

Márcia Barbieri: Cada vez que eu me sento para escrever eu tento me conectar com as histórias que estão perdidas dentro de mim, várias narrativas nos atravessam como sujeitos, tento estar atenta a minha voz interior, me coloco à disposição do meu inconsciente, imagino que ali estejam os personagens mais interessantes. Em relação ao afeto, qual homem não está o tempo todo em busca de um afeto que nunca chega?

Fernando Andrade -) O cão como tempo de algum afeto, de sintonia, entre gentes, mas o que se vê é algum tipo de ruína humana na comunicação, as palavras parecem ocas sem sentidos para os ouvidos, os tatos, me lembrou a desesperança beckettiana. Fale disso.

Márcia Barbieri: Parte do livro foi escrito durante a pandemia, talvez esse fato tenha reforçado essa minha visão de ruína dos afetos, arquitetura do fracasso. Estamos sempre nos comunicando para um interlocutor e esse interlocutor está se comunicando com outro interlocutor e assim sucessivamente, como naquela brincadeira do telefone sem fio e no final ninguém se escuta ou escuta o que não foi dito…

Fernando Andrade -)   Queria que você me falasse um pouco desse personagem narrador. Não há tanta fisicalidade nele, é pura mente, atormentada. Sim.

Márcia Barbieiri: Talvez esse personagem não passe de um espelho do homem contemporâneo. O que o corpo pode dizer sobre um homem? O corpo pode ser maquiado, transformado, já a mente é um lugar onde os demônios estão soltos, ninguém sabe exatamente o que se passa na cabeça de um homem atormentado, embora todos os homens são por natureza atormentados, afinal, somos dotados de instinto e racionalidade, dois elementos em eterna batalha.

Fernando Andrade-)   Há alguma cronologia deste livro que parta de alguma tetralogia com seus outros livros. Fale disso.

Márcia Barbieri: Não, ele é um livro independente, embora não sei se acredito que um autor seja capaz de escrever mais do que um livro durante toda a sua vida… Talvez todo livro é uma eterna repetição do primeiro ou uma variação de qualquer outra obra.

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