Fernando Andrade entrevista o escritor Fauno Mendonça

Fauno - Fernando Andrade entrevista o escritor Fauno Mendonça

“Bragof” versão física: https://clubedeautores.com.br/livro/bragof

 
 
 
 
 

Fernando Andrade – Seu romance parece se situar entre uma vigília e um sonho sonhado, onde o caminho feito pela escrita é no exato momento do presente suspense. Há elementos de uma experiência real mas, onírica. Como funciona esta relação entre fantasia e realidade?

Fauno: A fantasia e a realidade não são coisas assim tão simples de serem visualizadas nem explicadas, pois não podemos distinguir com certeza quando se trata de fantasia ou de realidade. Talvez, estejamos, neste exato momento, vivendo uma grande fantasia, enquanto a realidade se encontra além daqui.

Na verdade, não sabemos nem saberemos até que a dona Morte, se o caso, nos conte sobre isso.

Ademais, a fantasia, assim conceituada por nós, pode ser a realidade daquele que está sonhando ou, de fato, não ser uma mera fantasia, mas, sim, ser a própria realidade, pois, aquilo que não conhecemos e chamamos de fantasia, talvez, seja a realidade desconhecida de nossos olhos e de nossos sentidos.

O personagem principal vive uma realidade atípica ou uma fantasia sonhada. De qualquer forma, busca, além de outras tantas coisas, compreender e aprender com aquele momento.

Nesse cenário, apesar de, aparentemente, se tratar de uma efetiva fantasia, para ele tudo é real e plausível, mas é importante lembrar que ele vive suas experiências em um plano que não temos controle nem conhecimento de seus
mecanismos e formas.

A vivência posta em Bragof não pode ser analisada dentro de um plano cartesiano. O protagonista vive algo além de nossa compreensão, fora do comum, portanto, não temos elementos para dizer se a experiência vivida por ele se trata de fantasia, talvez, seja a mais pura realidade.

Fernando Andrade – A névoa é um elemento semiótico de encobrimento. É muito parecido como as camadas que um texto apresenta como subtextos que vão se perfazendo.
Que relação a névoa tem no seu livro? Não poderia ser uma nova camada de subjetividade ou figuração ou metáforas na história?

Fauno – Realmente, as névoas têm um simbolismo muito intenso no decorrer da narrativa, pois, elas dão o tom das dúvidas. Seus contornos e suas fumaças cansadas transmitem a possibilidade de que tudo poderá acontecer no presente ou ante o futuro incerto.

As névoas servem para demonstrar o lado etéreo da narrativa. Ela transporta o personagem para ambientes distintos e desnudam a incompreensão de um mundo complexo, desconhecido e novo.

São elementos que norteiam o lado fluído e efêmero de cada passo dado ao longo da jornada do personagem, um verdadeiro diapasão onírico que delimita o tempo e a frequência dos acontecimentos para dar ritmo à narrativa.

Fernando Andrade – A questão da mácula do pecado atinge a culpa cristã, e lembra de autores como Kafka ou até Samuel Beckett. Você trabalha este mito de Sísifo, carregando culpa (pedras) até ao alto da montanha. Fale disso.

Fauno – Acho que os assuntos do livro não têm completa relação com o mito de Sísifo, pois, apesar de suas semelhanças ao buscar a essência do ser humano, o personagem não sofre desconforto com o lado espiritual, ao contrário, em que pese não explicitar isso, em seus combates introspectivos e, diante dos conselhos recebidos de terceiros, ele faz uso de ferramentas de cunho cristão, os quais lhe ajudarão ao longo de sua jornada.

Importa ressaltar ainda que no livro existem simbolismos intrínsecos e acobertados de batalhas entre o bem e o mal, céu e o inferno e entre Deus e o Diabo, com elementos alusivos à queda de Lúcifer.

Em relação à culpa cristã, não resta dúvida de que o personagem padece desse mal, contudo, a partir dessa mesma culpa, tenta alcançar a redenção, procura sua paz para se redimir de atos que obstruíram sua felicidade.

A culpa cristã é algo relevante para ele, um grande sinal de alerta, já que nela ele pode extrair suas fraquezas, assim, a partir dessa reflexão, luta para superar suas falhas ao ouvir sua voz interior, a qual muitos chamam de Deus.

Todos esses aspectos estão envolvidos, sobretudo, por uma modulação Kafkiana, não posso negar isso.

Fernando Andrade – Se sugestionar seria uma base de personalidade do personagem. Toda voz que vem de fora é sugestão para ele fomentar um auto-conceito. Parece até um forte acento de análise da psicanálise. Comente.

Fauno –  O personagem é um ser frágil, portanto, precisa de ajuda para fomentar novos conceitos para galgar seus propósitos, precisa sair de seu transe consciente e ouvir outras vozes para continuar seu desiderato incessante na intenção de se tornar uma pessoa melhor.

Nesse quadro, a sugestão de elementos que aparecessem constantemente no livro indica que o personagem não impede e, principalmente, precisa que outras forças atuem para transformar sua vida.

Trata-se de uma ser aberto que, apesar de suas limitações naturais como criatura, analisa e questiona constantemente suas ações passadas para melhor tomar atitudes no presente. Ele aceita ser ajudado e se ajudar, por ter plena consciência de sua fraqueza.

Versão digital: https://www.amazon.com.br/dp/B0BRNWGVD2?ref_=cm_sw_r_apann_dp_JJM8
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