Fernando Andrade | escritor e jornalista
A loucura não seria um gênero onde a ótica entra dentro de uma mente distorcida. Mas podemos falar de que a política exerce o poder sobre o controle das ações e reações de pessoas que não se enquadram em filtros. Do senso comum até um desvario de alguém até um ataque de fúria, se pudesse classificar de tudo de insanidades. O estranho entre nós não mais nos parece familiar entre grupos, gêneros, espécies. Sandra Godinho em seu novo livro, chamando A estranha entre nós, editora Libertinagem, nos dá uma clara desconstrução sobre o jugo de normalidade aparente quando as emoções que embaralham o amor nos joga no mar bravio das desrazões. A autora nos mostra Cassandra que foi colocada pela marido Jaime num sanatório famoso que tinha em Barbacena, num contexto político claro e alusivo ao período turbulento da ditadura militar.
A linha da fronteira quando não existe mais democracia, parece se diluir entre uma internação de uma pessoa, sem qualquer laudo sério para que a coloquem ali, porque o impedimento para a liberdade do juízo entre a racionalidade parece se contaminar pelo argumento tosco de todas as arbitrariedades contra a liberdade. Cassandra narra com sua centralidade emocional mas lúcida com seus traumas, com a morte do pai, com uma ausência paterna forte que se aguça numa vontade louca de ser amada por Jaime.
Toda a estrutura do olhar de Cassandra sobre o lugar de internação, é um olhar lógico, e intencional, sobre os desmandos de Jaime que cuida dos negócios da família trabalhando nas farmácias do sogro morto. A desumanidade vista pela narradora, não é perícia para julgamentos quando ela interage com outras internas, numa fraternidade entre linhas do gênero feminino.
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