O álbum poético de Fernando Andrade | Leonardo Almeida Filho

Fernando Andrade - O álbum poético de Fernando Andrade | Leonardo Almeida Filho

 
 
 
 
 

Leonardo Almeida Filho | escritor e poeta

A poesia contemporânea tem sua dicção também no experimento prosaico dos versos, na apropriação temática da cultura de massas, na revisão do poema-piada oswaldiano e na adaga afiada dos leminkis, na exploração sem receio de toda liberdade conferida ao pós-pós-mil-vezes-pós-moderno. Os poemas de Fernando Andrade trazem esse jogo experimental que passeia pela psicanálise e pela cultura pop, e não por outro motivo traz o título “Se a vida fosse um vinil” (Editora Penalux,2022), num evidente anacronismo diante de uma indústria que já é passado, objeto de culto saudosista. A obra, emulando um álbum de música, um bolachão de vinil, é dividida obviamente em Lado A e B e trás, como representação típica desse produto fonográfico, faixas-poemas extras, em bônus tracks. Inclui ainda, logo nas primeiras páginas, o estranho “Conto do gato beckettiano”, que desconcerta e instiga. Numa primeira leitura, a vertigem e o estranhamento é o elemento que subjaz ao leitor atento pois, sob uma camada aparente de falsa banalidade, se esconde um poeta que se arrisca ao brincar com as palavras, seja por associação de ideias, numa espécie de lírico fluxo de consciência, ou por proximidade sonora ou semântica o que, para quem leu alguns de seus livros anteriores, como “Logaritmosentido” (Penalux, 2019), “Interstícios” (Penalux, 2021) ou “A janela é uma transversalidade do corpo” (Penalux, 2021) não constitui nenhuma surpresa já que acaba se tornando uma espécie de marca, de estilo, um jeito Fernando Andrade de fazer literatura.

Brasília, 30 novembro 2022
LAF

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