Fernando Andrade | escritor e jornalista
O poema ao contrário do teatro não propõe um jogo de atuações. Não há marcações, cenas, pois o poema é pura linguagem sem a fisicalidade do corpo. Porém o poema pode encetar algumas regras do jogo que se dá pelo caráter lúdico da linguagem, pelo tom ora jocoso, ou cômico, com as palavras e seus sentidos. O poeta Cristiano Menezes, brinca com a leveza dos versos, olhando a vida, o material genético do poema, sem qualquer intuito de seriedade.
Neste sentido, o livro do poeta, Não sei se faço parte, pela editora 7letras, lançado agora, depois de sua morte em 2016, nos faz familiarizar um pouco mais com escrita leve e bem humorada do autor, que tinha pela música uma relação não só de audição e trabalho, mas também criativa, no sentido da métrica muito bem ritmada e melódica com um fraseado extremamente musical que muito até parece algumas letras de música.
São poemas que lidam com as referências do prosaico de um dia de rotina, do amor à sua mulher, Cláudia, mas que são trabalhados com riqueza do vocabulário, e uma afinação do tempo poético sem desperdício de palavras.
Mas não pensem leitores da resenha, que o autor envereda por uma poética apenas de sua crônica ou sua biografia entre amigos e amores, há muita de uma sublimação de uma fantasia sobre a vivência do existir poético. Cristiano busca a palavra mais artesanal em ritmo e duração não só físico, mas também íntimo, subjetivo, ligado à arte. O eu lírico traceja sutil, a riqueza da experiência, que os olhos predicam coisas, seres – objetos.
O humor para isso se aproxima de outro poeta que sabia gracejar e rir das palavras sisudas – Paulo Leminski. Embora Leminski inovasse na parte da língua com uma torção na grafia das palavras, Cristiano usa seu humor mais próximo dos temas humanos, como amor, cotidiano e natureza.
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