Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
A política seria a arte do conflito, já que A antagoniza com B. Numa babel onde os leitores falam muitas línguas, seria difícil juntar numa certa biblioteca todo manancial de histórias e ficções onde cada capa de livro diz algo que o outro não entende.Já diziam os estudiosos que a literatura é um imenso labirinto de conhecimento e cultura que o fio de Ariadne costuma novelar em seu carretel em busca começos, meios, e fins. O leitor, não esse tal de Minotauro, que busca sua parte humana perdida em algum bosque ficcional.
Ele é o alquimista que decifra códigos e semióticas em busca de não só sentidos como de fruição e estética. E poderíamos dizer que o tradutor é um leitor que conhece o fio da meada por entre os corredores deste tal labirinto? Borges deixava para seu leitor pistas falsas ou não de intertextos de outras fontes e obras. Calvino buscava na ciência ou esoterismo uma fonte de diálogo com os vãos dos textos onde a linguagem pudesse conversar com certo animismo.
Penso nestes dois semiurgos – uma mistura de demiurgos com semióticos quando leio o novo livro de contos do Paulo Abe, chamado O livro dos tradutores, editora Penalux. A mimese de Calvino é perfeita em textos como O livro de morte, e o livro da guerra, relação entre escutas de viagem e literárias de personagens que ora buscam a guerra ora buscam o estrangeiro. Paulo estuda a fronteira entre política e literatura, fazendo laços familiares-pertencimentos ruídos pela distância do esquecimento. A voz literária num último conto sobre solidão pode ser tão fragmentada por uma confusão desta babel de línguas que não permite a comunicação, e tenciona o isolamento quando ouvir parece um longínquo murmurar de sal dade.
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