Fernando Andrade | escritor e crítico literário
Sempre associei nossas vidas a um álbum. E a palavra álbum pode conotar duas coisas. Um vinil de música ou o próprio álbum de fotografias. Será que existe uma relação entre as duas fixações de memórias? A música nos enleva momentos bons ou ruins, guardados. As fotos segundo a poeta Moema Vilela também de acordo com o nome de seu novo livro: Fotos ruins muito boas, editora 7 letras, também se utilizam para recordações. Lembrando que gravar em inglês é record.
Passar a limpo não é passar uma roupa para uso cotidiano. Embora o cotidiano possa caber, as fotos da nossa relação com o universo. E também escutar aquele bom vinil. Moema trabalha a técnica pelo qual a memória da gente elabora a vida, esta que passou e ficou para trás e algo bom a captura como uma foto. São poemas transversais que pulam de ritmo, de gêneros, para talvez fazer alguma síntese que um álbum possa sugestionar.
E a técnica não necessariamente passa por uma perfeição onde o olho elabora tanto a lente como a vida. Lembremos que no nosso divã, os momentos ruins é que contam como forma de discurso e análise. A poeta então nos revela um pouco de si, em sucessões e travessias de um eu íntimo e pessoal, mas faz tudo isso com a mão no operador do diafragma que filma e grava não para uma certa posteridade. Como memória pura e simples.
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