Livro de contos ‘Ninguém está olhando’ nos pega em constante balanço pelos desvios da vida prosaica de personagens cheios de curiosidade humana | Fernando Andrade

Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura

Um passeador de borboletas seria um narrador que só vê o que não é tão importante pelo urbano da cidade. Entretido com voo da borboleta a beleza de suas palavras pousariam em cada ponto de calçada, em cada sinal prestes a ser vermelho. Mas para este narrador o lado prosaico da cidade valeria mais do que uma ação tão dramática como alguém atravessando a rua com sinal vermelho? Ou ao contrário, seu olhar cairia no chão para um bilhete jogado na rua sem nome sem destino. Quando estamos dentro da paisagem de uma cidade, os olhos nos puxam para o movimento, tanto das pernas quanto dos eventos do dia a dia. E o narrador busca esta sintonia entre ver e narrar e sentir a fugacidade das coisas efêmeras, e botá-las em palavras.
É que sinto quando leio o livro Ninguém está olhando, contos do escritor Luiz Gustavo de Sá, editora Penalux, que pode ter uma presença de um estilo tão leve da crônica sobre suas narrativas. Talvez seu conto seja aquele caçador de voo onde o que está acima do chão tem mais balanço, e levite mais para uma rajada de vento, quanto quem olha só para cara feia dos transeuntes.
O autor tece teia cotidianas de relações entre gentes com certo dose de humor e ironia, vendo sempre um ângulo mais próximo de uma reflexão ou dá leveza de estilo de apresentar as palavras ao cardápio do leitor que sorri e acha certa graça de uma leve melancolia de seus personagens. O leitor neste passeio pelas histórias não anda desprevenido nem distraído com as cirandas afetivas de solidões, ciúmes e atos simbólicos de uma vida que antes de tornar-se pública passa pelo viés de uma fechadura de um olhar tão terno do observador que passeia pela paisagem.

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