Entrevista com o poeta, escritor e editor Marcelo Torres

Marcelo Torres livro 2022 - Entrevista com o poeta, escritor e editor Marcelo Torres

 
 
 
 

FERNANDO ANDRADE -) Teus poemas surgem pela potência do som, de aliterações ruminantes que forçam uma música dos sentidos. Por isso vi tanto ritmo, e compassos, entre os versos. Me fala desta tua prosódia pelo ritmo\canção?

MARCELO TORRES -) As questões sonoras da feitura de um texto literário são fundamentais em qualquer processo de escrita, em meus poemas utilizo muito das aliterações, assonâncias e dissonâncias que causam um estranhamento por conta das quebras abruptas. Nesse conjunto de textos do “Tu és isto e mais dez mil coisas” tento jogar com o coloquial, que surge da observação do significado e do tom da fala do outro, criando junções entre diferentes elementos que perpassam as possibilidades da união de ritmos, que se intercalam com os temas apresentados.

FERNANDO ANDRADE -) Você formaliza uma ação que não é concreta. Há nela um pouco de um surrealismo que vem muito com a maneira de lidar com a forma do poema, sua construção em torno de um elemento estético que dê ao poema tanto corpo como sua alma. Esta ideia como vem na sua criação, quando começa a delinear o poema?

MARCELO TORRES -) Sempre parto de uma imagem ou de uma ideia que pode se relacionar com a política, com o erotismo, com o meio ambiente, com as reflexões inerentes a vida atual ou de palavras/imagens que são impactantes no momento de apreensão individual. Quando delineio o poema através das questões apontadas anteriormente têm coisas básicas que considero, como: quais ritmos condizem com a proposta, que espaço que irá ocupar na página o texto, qual extensão do verso, quais sentidos dissonantes posso criar que se transformem em versos narrativos ou em versos que tenham densidade imagética que se fixe na cabeça do leitor como pequenos estranhamentos, pequenas belezas ou pequenos desconfortos. O intento é sempre tentar deslocar o leitor de seu eixo de segurança.

FERNANDO ANDRADE -) Você trabalha a informação quase entropicamente com uma perda ou ganho de energia ao poema. Não é o acaso que faz o poema? ou, sim, sua firme delimitação do pensamento sobre o poema? Fale disso.

MARCELO TORRES -) Acho que no meu processo de escrita o acaso tem um espaço pequeno, mas importante, esteja ele relacionado com a perda ou não, com a revelação ou com o inusitado do encontro com outro. Agora o restante é trabalho de linguagem, técnica, delimitação do objeto ou dos objetos do poema. Tento sempre sacar o que o texto me oferta através da perspectiva rizomática do pensamento. Elaborando realidades que dialogam com o sujeito ou com a imagem/tema, revelados pela energia “axé”, aplicada na criação de um texto. Diria que é uma busca de ruptura com o convencional também, com a tristeza do dia a dia, com a falta de alegria do mundo atual, com a batalha contra a pobreza ofertada por essa sociedade neoliberal e tacanha.

FERNANDO ANDRADE -) Como trabalha as referências no poema? Atrapalha ou ajuda na sua estética?

MARCELO TORRES -) As referências são fundamentais em meu processo de pesquisa e de escrita, sou um leitor compulsivo, acho que se ficar um dia sem ler uma página de meus queridos livros, tem grande chance de acontecer algo terrível comigo. E não acredito em escritor ou escritora boa que lê pouco. Literatura demanda leitura profunda, mergulho. Só tenho concepção estética do que faço nos meus textos, por conta do que já li, já estudei. Para um pobre diabo como eu, se não tivesse a experiência da leitura como uma das coisas essências para viver, estaria totalmente idiotizado por essa vida besta. Trabalho sempre com uma dúzia de livros como referência para criação de um conjunto de poemas, ou seja, crio meu círculo de fogo com palavras.

 

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Marcelo Torres publicou Vertigem de Telhados (poemas, 2015) e nadar em cima da rua (poemas, 2015), editados pela Kazuá, Páthos de fecundação e silêncio (poemas, 2017) e Poemas tímidos e gelatinosos (poemas, 2019), editados pela Patuá. Com a editora Córrego publicou os livros Saindo sem avisar/Voltando sem saber de onde (poemas, 2020) e Tu és isto e mais dez mil coisas (poemas), lançado no mês de maio de 2022. O autor ainda têm poemas publicados em antologias, revistas de literatura e cultura no Brasil e no México. É um dos criadores do Canal Clóe de Poesia que já realizou mais de 70 entrevistas com poetas brasileiros e da Editora Clóe que é uma casa editorial de publicação de literatura no país. Nasceu em Pernambuco na cidade de Palmares no mês de março de 1984.

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