Livro de poemas ‘Nesses dias impossíveis’ faz uma viagem suíte pelos (des)caminhos do amor no tempo de dias (in)findos | Fernando Andrade

Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura

O diálogo está para o teatro como o amor está para a poesia. Mas o amor também pode estar atrás de um personagem. Como o diálogo cria potencialidades com o ato poético, pois, ali no verso há também uma conversa entre o lírico e seu leitor. Inventar um discurso amoroso, Barthes já o fez através de uma semiótica das relações dos signos do amor, trocados feito papéis de cartas. Mas quando passamos os anos num período de latência de uma dor do existir dentro de um contexto de pandemia, as coisas do amor tendem a se misturar ambivalentemente com outras vassouras que varrem a dor para lá. Lá onde o universo pode estar à salvo?
 Mas o amor também se finge de sofrer? É matéria da poética de tal pessoa. Por isso vi com prazer a leitura do livro novo de Paula Autran chamado oportunamente Nesses dias impossíveis,  editora Reformatório.  O prazer de ver Paula  mimetizar a vida dela na melhor ficção poética de linhas de um momento de passagem por furacões, torvelinhos que movem a gente por dentro. Este mover é tanto o papel do poeta na linguagem que transforma sentimentos e momentos que são passageiros em eternidades que adoram o amor.
 Valorizado por uma expressão tanto metafórica quanto literal dos efeitos do amor no corpo da persona em questão, vemos uma espécie de viagem que passa pelo tempo, aquele que transforma os afetos em memórias, quanto do lugar de pertencimento com o outro de forma plena e sagaz.  Paula faz um belo teatro filmado de suas sensações epifânicas quando vistas pelo contato da pele, do sexo, pela alquimia de verbalizar o outro pela palavra mais nuançada, mais quente, mais torneável pela gastura do querer.  Filigranas de uma emoção à flor da pele.   

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