Romance ‘Doze noites e seus trabalhos’ joga a linguagem do drama nas cordas duras do tatame do sexo, jogo das pulsões sexuais humanas | Fernando Andrade

Jozias Benedicto romance - Romance 'Doze noites  e seus trabalhos' joga a linguagem do drama nas cordas duras do tatame do sexo, jogo das pulsões sexuais humanas |  Fernando Andrade

 

Fernando Andrade | escritor e jornalista

O cinema projetou o corpo do ator numa dimensão erótica nunca antes vista. Nós, leitores visuais, somos passíveis de olhar toda semântica e cinética de um movimento sinuoso de um ator ou atriz pelo set de filmagem. A relação de espelho entre nosso imaginário em potências e projeções do desejo, encontra catarse numa transa voyeur entre dois amantes, num crime misterioso onde as pistas estão escamoteadas por falsidades. Neste imaginário do cinema, o leitor de um romance também se faz na sua fabricação de um processo íntimo de identificação ou repulsa sobre temas, rebatimentos, singularidades entre o que a palavra descreve na ação e o que o leitor sente na sua visualização do enredo. Esta relação é levada pela última potência no novo livro do escritor Jozias Benedicto, chamado ‘Doze noites e seus trabalhos’, pela editora Urutau.
Um personagem é chamado para participar de um jogo deveras, teatral , onde ele será uma peça dentro de uma complexa dinâmica de sexo, poder, travestimento psicológico. São os doze trabalhos da mitologia feita por Hércules. O narrador para cada noite, seus senhores, lhe dão a prova da coragem, e desejo, ligados a certas perversões do corpo biológico e humano. O exercício e prática são gradativos, e tudo é filmado por câmeras que transmitem numa rede underground da internet.
O corpo do personagem funciona como uma mola que estica e encolhe de acordo com suas pulsões momentâneas, criando vontades e estranhamentos para uma relação entre gêneros e fronteiras do prazer. Jozias encena seu romance com citações e referências literárias e míticas, fazendo a associação entre o mito aquilo que os deuses tinham de humanos mas com potência demiúrgica e uma aspereza terrena pelo baixo ventre, suja e volitiva. O sexo como produto de era capitalista onde até o desejo parece ser cooptado pela exibição de olhares copiosos.

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This Article Has 1 Comment
  1. Jozias Benedicto Reply

    Ótima resenha, muito grato pela leitura atenta! Grande abraço!
    Jozias

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