Livro de poemas ‘O sopro do lugar junto ao tempo’ dilata o tempo no espaço físico do lugares onde o poema se permuta em silêncio e sentido | Fernando Andrade

Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura

Me ditar o tempo é musicá-lo pausadamente numa certa gaita muito antiga? Contar dos seus devaneios onde ritmos e pausas apontem o caminho do rio estradeiro. Entre o fundo de um leito onde os eventos se sedimentam, perenes, o raso onde os braços e pernas corpo a corpo fazem movimento para emergir os versos. Os poemas podem ser tanto de São Luiz, lugar onde a miragem pode ser até um próprio personagem há emitir algum sinal ao farol da ilha. Ou Basra, no Iraque, onde uma partida de futebol pode ter tantos silêncios repentinos quanto o cume de uma montanha na primeira hora da manhã. São partidas para certas partituras, decompostas pela guerra, pela chuva incremente a açoitar a praia de São Luiz.
O poeta Eduardo Júlio nos convida para ouvirmos os espaços do seu livro O sopro do lugar junto ao tempo, 7 letras, da antecâmara do silêncio do poema que mesmo assim vaza sentidos pelas frestas do corpo denso do verso. Captar o lugar pela memória seria algo tão imaginoso, para o artista da linguagem? Dormir então no poema teríamos tantos sonhos, ou devaneios, criando e voando a imaginação antes que o fato e o evento se completem como um vento passageiro por estas bandas de cá. O que pode um ser em caminhar em tantas orlas por onde as pegadas se apagam pela réstia da água salgada. Alguns dizem que o poema se parece com o labirinto de Creta. Que basta deixar fios soltos de certa ficção para que a própria poesia faça uma malha bem cerzida de fios, palavras e sentidos.

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