Livro de narrativas ‘Histórias de amor e de morte’ faz da escrita um lugar de exercitar identidades e pertencimentos | Fernando Andrade

Julia Baranski - Livro de narrativas 'Histórias de amor e de morte' faz da escrita um lugar de exercitar identidades e pertencimentos | Fernando Andrade

 

FERNANDO ANDRADE | escritor e crítico de literatura

O conto está para rua como a crônica está para a cidade. O conto é a oralidade do que vejo, caminhando e recolhendo, passo a passo. A crônica seria um certo gravador onde o rolo é sua memória. O rolo é em desenrolar dos fatos e casos que a boca e depois as mãos desnovelam em fios e pavios narrativos. O conto nem sempre busca a causa do caso. Ele pode tecer estilos e prosaidades de uma certa fábula. Mas quando junto conto (orar), na crônica (o terço) faço do lugar de escuta e narrativa uma canção em ritmo de pertencimentos.

É como se eu juntasse ouvido com a boca, para constituir identidades. Nesta cirandeira relação que me vejo sentido à flor da pele o livro da escritora Julia Baranski, pela editora Patuá, Histórias de amor e morte, me leitorando à caráter para o passeio dando eco a Umberto que toda prosa tem um Q de bosque para fazer suas entradas e trilhas.

A poeta escreve vivendo seus textos entre o narrar e o observar o caminho, que ela nos conta, se fez durante a pandemia de 2020 e 2021. São textos que prezam as pegadas antes de se caminhar-escrever. Muitas citações como canções as tecem num mar de referências, Bahia, negritude, religiões sincréticas.

A poeta escreve com azeite da fábula, azeitando motes, temperando lembranças, numa escrita caleidoscópica e multicolorida como um prisma. Há uma indefinição de gêneros na sua linguagem, indo às vezes do diário, até de uma verve ensaística onde o repertório da poeta – botar cada citação em seu lugar, e quando fundar uma estética sonora de poesia dentro de sua malha textual, revela na poeta um dom de misturar e brincar com o lego da realidade.

Poemas narrativas sobre aborto, masculinidade abusiva, racismo, nos deixam maravilhados com o oratório de onde as palavras deslizam saborosamente pela pena da poeta.

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