Livro de poemas ‘Leite de mulher’ mexe com dedos e mãos os fios que dão corpo ao tecido da manhã na memória | Fernando Andrade

Marina Ruivo - Livro de poemas 'Leite de mulher' mexe com dedos e mãos os fios que dão corpo ao tecido da manhã na memória | Fernando Andrade

 
 
 
 

Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura

Vida doce é um tacho em fogo brando no fogão à lenha? De manhã o leite vem para o preparo do café coado, bem cedo. Broas à toa pousam  nos dedos leves de Marina que sabe que manhã tem algo de maternal como as crias. Mas podemos dizer que a criação da palavra poética começa tanto na infância, onde leves medos dão tons às palavras cheias de vãos e imaginação? O poema é o nosso corpo crescendo, suas intempéries entre o eu interior e o mundo lá fora, incluso e bagunçado ao mesmo tempo. Escrever de dentro, já adulto é um pedaço de chão já percorrendo – as palavras agora já não são medonhas, parecem mais certas tintas escuras que gostam de pôr suas nuances em dia.
 Marina Ruivo agora é habitante de uma casa já alicerçada, com bases sólidas ( Leite de mulher, Editora Patuá), mas é por meio das janelas que olhamos o fora do rio que lembra o escoar do tempo feito aquele  das pequenas coisas que acontecem e permanecem na memória. A escritora é esta faz (renda) do curso da história sua, onde as atenções da família, os primeiros  amores brotam e marcam a presença do que a palavra mexe e bagunça na gente a procura de objetos perdidos, saudades mexidas, tudo muito bem colorido pela linguagem enigma da poeta em folhas e pequenos vagalumes de intensidades miméticas. Não estamos aqui no terreno tão biográfico de uma autoexposição de vivendas e vivências. A poeta transfigura sua experiência em recursivas pinceladas de cores e imagens semânticas sobre pertencimento, e escolhas.

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