Relações de contexto no movimento, na fala, e no amor | Fernando Andrade

Fernando Andrade 111 - Relações de contexto no movimento, na fala, e no amor | Fernando Andrade

Rene Magritte

 
 
 

Fernando Andrade | jornalista e escritor

Viver não é só movimento. Pois se você vive sem medo, suas pernas te levam por aí. O problema é quando viver passa a marcar um compasso, uma pegada, um sinal de que você estava ali, e não foi descoberto, por descuido. Passar batido era a necessidade de V, mas ele apesar de passar despercebido pelo movimento – ninguém acho que consegue passar batido pelo movimento- ele tinha seus desejos que são extensões tentaculares do movimento – já que V quando está trepando se aciona para frente e para trás, e nisso ele não se preocupa já que é mais fácil passar despercebido por uma situação dessa.
O problema de V era nas linhas gerais da existência, onde o coletivo olha à sua volta exatamente o que você anda fazendo e como anda fazendo. V ficava paralisado com a preocupação do mundo. Se ele ia virar à esquerda ou à direita num determinado cruzamento. Será que este todo não confia na minha opção de virar para esquerda ou direita? V acha que o movimento é composto. Ele nunca é em si só, há uma gama de imbricações dos movimentos de gente que está atrás andando numa velocidade maior, há movimentos do andar que sincronizam olhares entre pessoas, e que podem gerar até sorrisos…
E esta teia tende a crescer quando a fala entra no meio, pois a fala é uma articulação do afeto e da proximidade, ou deveria, pensa ele. Ferrou para V. Ele teria no caso uma interação através só de deslocamentos, ou de explicações no caso da fala organizar afetos e nortes que para ele seria como subir algo muito íngreme a certa tendência do cansaço. V pensa que a tartaruga seja um sinal de sabedoria. Ele tem um casco, ela anda bem devagar e vive uns 200 anos… Mas V tem um corpo maleável; a pele é sujeita a interações externas, o único casco que ele pode pensar é seu crânio que pode ser relativamente mais resistente. A média de vida dele com estas preocupações e a falta de risco, pois, para o risco há certa dose de invulnerabilidade.
V está neste momento, trepando com sua mulher, pois ainda não definiu qual a relação de afinidade entre duas carteiras de identidade. O que define os dois ele já sabe e o que define o seu amor, ele ainda está em processo de averiguação. No processo erótico V é vitorioso, acredita na sua facilidade de verbalizar tanto sentimentos quanto ser másculo o suficiente. Quando sair do quarto, V terá uma série de movimentos ao geral, o contexto, o desconhecido cinético que para ele lhe causará uma regressão de ganhos e destinos.

 

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