Romance ‘Para o bem ou para o mal’ fragmenta o ‘eu’ numa rede de programações entre o aleatório e o fatal num universo desencantado | por Fernando Andrade

Luiz Fernando Brandão 2 - Romance 'Para o bem ou para o mal' fragmenta o 'eu' numa rede de programações entre o aleatório e o fatal num universo desencantado | por Fernando Andrade

 

 

 

 Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura

 

Vivemos num mundo globalizado, onde um leve bater de asas de um borboleta aqui no Rio pode ter efeitos encadeadores em alguma parte do mundo. Relações não só físicas de contato pela circulação de pessoas indo e vindo em viagens de avião por toda parte do globo, mas também um uma conexão mais virtual, ligadas pelos fios soltos da internet, sabemos tudo num átimo de um plug ou bug.
 A informação é tão instantânea quanto um macarrão para se colocar na panela. Não há mais barreiras físicas como um muro separando ocidente e oriente. As dicotomias hoje são feitas pelas palavras de um ato do mouse, do rato. Por isso, a surpresa, quando li o novo romance do escritor Luiz Fernando Brandão, chamado Para o bem ou para o mal, Gryphus, porque achei que estava vivendo o livro num mundo real sem distinções de ficção e realidade. Pois o livro acontece aqui e agora.
E o primeiro autor que me veio à cabeça foi o norte-americano Thomas Pynchon, pois e grande autor é um estupendo escritor de painéis ou retratos geracionais de um mundo em franca entropia. A grande sacada de Luiz Fernando é escrever seu romance conectando suas partes ou suas rachaduras como um grande quebra-cabeças. A relação entre as partes e o todo obedecem uma certa função num livro, aqui toma parte da própria realidade descrita pelo autor num mundo fragmentado mas ao mesmo tempo altamente conectado.
E aí que mora a moira da coisa. O destino algo tão grego na antiguidade agora toma o lugar de algo que era tão cheio de casualidades – uma relação que fugia do controle dos humanos, tínhamos até as cartas que ditavam o ritmo de um evento, e suas previsões. Agora parece que as grandes corporações, ou as grandes mega empresas que ditam algum tipo de condução do destino? Suas ações parecem conectar ideologias, fatos, possibilidades de (contra)resoluções que mexem com o total dia a dia de um simples contribuinte.
E quando estas relações ficam mediadas por um série de pessoas que fazem do seu labor, uma previsão do que cada ato humano em seu particular pode servir como ação e reação, vide os videntes da esfera celestial.
Vivemos um dia de cada vez, mas bem alto na estratosfera celeste, e  existe uma runa ou uma ruína movendo os dados que não são sempre aqueles objetos cúbicos de jogar à sorte. Dados são estatísticas que podem alterar a sorte do seu dia. Fernando faz do tecido narrativo, uma malha de interseções sobre política, desonestidades, oportunismo, que recobre a teia que já foi mitológica para algo bem mais infra-numérico onde o futuro parece (des)amanhecer. 
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This Article Has 2 Comments
  1. Luiz Fernando Brandão Reply

    Muito obrigado pela resenha e pelos elogios, caro Xará — todo o merecido sucesso ao literatura e fechadura e os melhores votos para vc e seus queridos no novo ano que se avizinha. Abraço forte!! Luiz Fernando

  2. Gisela Reply

    Excelente texto sobre o livro, otima sacação,, tudo está conectado, tudo influencia tudo, gostei muito de sua percepção

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