Livro de poemas ‘Sobre o amor e outras traições’ em compasso musical e poético faz um traçado sobre as doações inefáveis do amor | por Fernando Andrade

Carmen Moreno livro - Livro de poemas 'Sobre o amor e outras traições' em compasso musical e poético faz um traçado sobre as doações inefáveis do amor | por Fernando Andrade

 

 

 

Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura

 

O poema começa pelo fim? O fim das relações onde a morte não apenas é luto, mas sim luta com a vida, seu renascimento. O que pode um livro se não nos dizer de seu recomeço entre um verso e outro quando as palavras nos acalentam. As partes que dialogam entre si, suas partituras numa peça musical, dando estética à obra , como uma vida em andamento, pausada, íntima, e sentimental. Todo poema parece uma senda, uma abertura para as fases de uma biografia percorrida pelos reveses de um amor perdido? pela falta de um familiar morto. É como nos pega pelo braço, o livro da poeta Carmen Moreno, Sobre o amor e outras traições, Patuá, nos seduzindo pelas imagens fortes de seu primeiro recomeço pelo fim, onde as provações são agudas como palavra inteira, em sedimentar todas as nuances por qual passa um ser enlaçado pelo outro, na prova do amor.
 Carmem faz do seu livro seu próprio processo de endereçamento ao leitor, cuja leitura passa também por filigranas de etapas do olhar enovelado ao objeto: vida, exasperante e apaixonada.  A linguagem da poeta é tão trançada quanto uma infinidade de fios que cobrem uma trama daqueles romances que não dão tempo ao leitor parar de ler. São sensações, sentimentos que Carmen tempera com fina língua da pátria estrangeira. Pois todo poeta escreve num espaço da língua estrangeira vasculhando uma possível alteridade tanto no nível semântico quanto estético.
  As partes seguintes, há a transmutação do espaço cênico do poema se faz pelo renascimento do corpo-palavra ao outro. As ideias de morada, de intimidade, afloram em poemas que acolhem o reservado do outrem. A palavra poema já traz o abrigo do amigo, não se observando mais as traições, as mortalhas da perda. O fio da aranha parece tecer caminhos por onde o leito é intimidade com a palavra. Mas a linguagem ainda guarda a recordação dos cortes que passou, a memória; uma tapeçaria de infância, onde os sonhos e pesadelos atuam na intrínseca poética. O livro caminha ao leitor como uma senda do “guardar” em italiano lembrar. Passo eu leitor como Ariadne em labirintos, onde o amor pela mãe nos traz a elegia da palavra nostalgia e lembrança. A poeta renasce como personagem, como vida e biografia nas tessituras da recordação de uma palavra: amor. 
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