As irmãs métricas | conto de Fernando Andrade

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Adão e Eva já dançaram no recinto, paraíso. Foram expulsos, claro, por mau comportamento na classe de Deus. Ele como tem um certo traço matemático, por fazer o mundo por linhas tortas, resolve colocar no paraíso: geometria e aritmética. Duas irmãs que parecem gêmeas, mas só parecem.
 Deus pediu um estudo de gênero, número e grau aos olhos do mundo, e resolveu banir do lugar já que lá tem árvores, frutos e cobra- o homem enquanto espécie-tacape. Geo já era sufixo conhecido antes da criação, geografia geologia, portanto o acréscimo da metria ou da metragem foi quase um adendo.
Mas o que quase ninguém sabe é que como o planeta se transforma, as palavras também se transformam em outras. E a metria do Geo, num surto adaptativo, se logrou no endereço mais próximo: a métrica. Portanto, em verso. Metria e métrica estavam toda prosa! existia no paraíso junto à sua irmã, aritmética, nada antiética, pois era entre as duas – a que mais sabia fazer contas e somar. Diferenciar singularidades que todos sabemos é o início da poética.
* Mética também passeava por bosques da ficção que nem dá eco, embora no bosque houvesse um caçador de palavras chamado Umberto. Mética logo derivou-se em métrica com um sopro linguístico de certo Lewis que passeava pelo jardim, buscando espelhos ou reflexos através de todos os buracos de sentido que ali houvesse. Deus vendo que as duas criações haviam se tornado linha&verso, começou a fazer propaganda da sua invenção linguística dizendo se tratar do melhor espaço quadrado que haveria em todo sistema solar.
O tempo foi passando, o mundo foi se modificando, os séculos foram se amontoando em milênios, até que as duas se viram morando numa espécie de paraíso tropical, onde a palavra maravilhosa era quase um fetiche. Aritmética e geometria fizeram Engenharia na UFRJ. Deixaram as palavras para as derivações, e  foram fazer planilhas e projetos de urbanização do espaço daquela coisa maravilhosa.
Claro que Deus não cuidou direitinho do sufixo de uma de suas criações, este pulando de galho em galho se desnorteou através dos tempos e acabou virando notícia nos jornais. Mas segundo os jornalistas foi tudo uma questão de Geopolítica.  

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This Article Has 1 Comment
  1. Roberto Monteiro Reply

    Que viagem, mano… felizmente a métrica dos poemas é quase coisa do passado… dá um trabalhão… agora o “must” é a inspiração…

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