Entrevista com o poeta Bruno Gaudêncio

bruno gaudencio blues e minotauros - Entrevista com o poeta Bruno Gaudêncio

 

 

 

 

FERNANDO ANDRADE:  O labirinto é um lugar que as escolhas parecem circulares em torno de uma saída. Mas é também uma imagem muito literária sobre o processo da ficção ou poética. No seu livro temos um diálogo com o meio intertextual da escrita. Dentro do labirinto a saída é uma linguagem que escute e converse com a questão da autoria?

BRUNO GAUDÊNCIO:  Acredito que “Blues e Minotauros” passa realmente por essa dimensão da autoria e do fazer literário. A espinha dorsal do livro é a ideia do labirinto, da força metafórica deste espaço tão real e imaginário. Neste sentido, as camadas que vão se apresentadas ao longo da coletânea passam por um circuito fechado de referências, mas ao mesmo tempo aberto. Cada leitor que encontre a sua saída. Ou uma entrada.

FERNANDO ANDRADE:  Há uma mistura de discursos no seu poemas, ele tem um uma pegada pop no melhor sentido da palavra, pois a estética é aglutinadora de canibalizar o outro. Você pega o mito e a música para falar do mundo de hoje. Como foi esta junção destas duas nomeações para criar o universo do livro?

BRUNO GAUDÊNCIO: Escutei muito blues, como também muito jazz no processo criativo deste livro. Li algo das mitologias gregas, mas ambos são apenas pontos de partida ou chegada do seu autor. Meu olhar é sempre para dentro e para fora daquilo que me intranquiliza. Nasce assim o flash. Minha poesia, acredito, é um fragmento do meu mundo ao mesmo tempo interno, cheio de lembranças do passado, como um quadro retornável do presente, observando a vida em sua dimensão coletiva. Neste processo me jogo na observação poética, às vezes chego a uma cachoeira, outra vez a um prédio. Mais importante é que jogo.

FERNANDO ANDRADE: As imagens nos poemas parecem vibrar e ter um tipo de movimento semântico. Sair do círculo é olhar o fora com olhos referenciais buscando a fome da combinação. Fale um pouco disso.

BRUNO GAUDÊNCIO:  Acredito que você captou bem o conceito principal do livro. Uma das palavras que ficavam sempre na minha mente quando decidi organizar os poemas enquanto coletânea foi à ideia de combinações. De tecer realmente um círculo de referências, em que certa tradição literária, muito baseada na memória, se encontrasse com outras tradições, mesmo que sutis, seja na música, na mitologia, na temática da morte e do suicídio. Assim consigo aproximar ou distanciar, por exemplo, o filósofo Benjamin com o poeta Arnaud. O músico Robert Johnson com o artista plástico Marco Antônio Mendes. Vivo realmente com fome destas combinações. E não é apenas na poesia, na ficção também.

FERNANDO ANDRADE:  A leitura parece um dos aspectos da sua criação. Quanto dela é parte da formação deste livro?

BRUNO GAUDÊNCIO: Livros nascem de livros. Baudelaire é sintomático nesta frase. O “Blues e Minotauros” tá cheio de referências, de homenagens, de abraços, de diálogos, de distanciamentos, de repulsas. Minha intensão era abraçar essas referências e eles iam me guinando neste labirinto que é a existência. Às vezes eles me empurravam para o abismo, outras vezes conseguiam me fazer lembrar-se de coisas boas, afetivas. A formatação do livro tem muita haver com a reinvenção da memória e isso passa evidentemente por me alimentar a cada dia de toda uma tradição, caótica e dinâmica como é a vida. No livro vivo o corte e o fragmento desta formação. 

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