Carlos Eugenio Vilarinho Fortes – (Carlos Vilarinho). Advogado e poeta. Pai do Ícaro, do Martim, da Ana Clara e do Théo. Reside em Palmeira das Missões – RS. – Coletânea 501 Poetrix para ler antes do amanhecer. – Coletânea Fagulhas Poéticas, vol. II. – Antologia Poetrix 5. – Livros individuais: Meia-lua, ed. Viseu/2018, e Sentimentos Indecifráveis (2008 – Ingrapal). – Coluna “Poesia do Vila” no jornal A Madrugada de Palmeira das Missões /RS. – Publicações no site Recanto das Letras – recantodasletras.com.br/autores/vila; no Twitter (@chevilarinho), no Instagram e no Facebook.
Nós ainda não fomos. Eles ainda chegam. Quem sabe. Conto sobre um desses passantes. Pelo tempo. Do tempo. Chegado numa senda. Uma possibilidade.
Sem provas. Sem legados. Sem herdeiros. Que passou por aqui. Da janela. Vê o varal. A geada. A saia de lã congelada. Esquecida. Lá fora. Encara a aurora. Junta uns cavacos. Corre de volta. Limpa o borralho. Ateia. Assopra. Ateia. O fogo pega. Lento. Manso. Alimenta. Cavacos são muito úteis. Aprendeu com o tempo. Esse e outros ofícios. Lembra de quando chegou. Dez anos. Quinze anos. Pela fenda fugidia. Vindo de outro tempo. Ainda é cedo. No rádio.
Acomodado sobre o guarda-louça. Notícias. Do tempo. Do frio. Da noite gelada. Da geada. Da manhã fechada. Observa. Onde o olho alcança. Até onde compreende. A quentura. Aos poucos. Afaga as mãos. Afetos fáceis da vida. Compensadores. Da folhinha. Na madeira descascada. Aprendeu a angústia. Do tempo. A agrura. Da escolha. Sem escolha. Aprendeu a imagem. Detida. Noutro tempo. Na folhinha. No calendário. Preso. Anos a fio. Sujeito do tempo. Ao agora. Agora e apenas. Neste interregno. Desatento. Viu o homem chegar na lua. Viajado no tempo. O tempo o esqueceu. Passou. Parou. Nos caminhos ciganos. Na fissura. Sem mesura. Passou. Ficou. Criou raízes. Raízes arrancou. Em silêncio. À espera. Esperar é do homem. Esperar transcende o homem. Esperar é. Então o homem desceu. Da lua. Correu. Para fazer outra guerra. E outra. Matou. Trucidou. Sempre. Sempre. A justificar. Com o calo. No coração. Com o caldo. Calado. Com o cadinho. Ato de provação. Cada ato se mistura. Cada dor se mistura. Era de provação. Provação. Fora do tempo. Força do tempo. Forma do tempo. Medo do tempo. Tempo lento. De armadilhas. Do paradoxo. Luz e sombra. Eternas. No porão. No olho. No movimento. Da coluna. No movimento. Da rua. No movimento. Do vivente. Do ser. Invertebrado. Desvertebrado. À luz. À sombra. No palco. No festival. No pau. Na vala. No pau-de-arara. Na sala. Na cara. Na marra. Do paradoxo. O peito inflou. Cantou. Calou. Ficou sem memória. Sem história. No caos. A esperar. Na rua. O sol. O raio. Seguido. Escapulido. Na réstia. Viajante. Viaja. Esqueceu. Padeceu no esquecimento. Percebeu além da hora. Todos foram embora. A liberdade é movimento. É atravessar. A rua. A ponte. O rio. O oceano. A vida. O tempo. Atravessou. Na rua. Na esquina. Nova esquina. No braço. Abraço. Da moça. Da moça que grita. Direto. Diretas. Por direito. Grita a moça. Leva. Uma leva. Multidão. Emoção. Paixão. Quase leve. Luta quase leve. É sonho. Sonho assalta. Sonho arvora. Desnuda. A hora. Sustenta. O dia. Os anos. Tantos anos. E conta. Décadas. Da tinta no muro. Marca da angústia. Da noite. Noite passada. Noite passando. Pela esperança. Da estrela que pinga. Que for. Que vinga. Qual flor. No tempo igual. Sempre igual. Igual e solerte. Tal. Nem açodado. Nem manso. De importância. Sem. Travestido. Mero. Caminho do meio. Sem meio. Ilusão que margeia. Margeia os anos. Anos de luz. Anos de sombra. De luz. De sombra. De sombra. De luz. Na conta de cada dia. Na parede. Na folhinha. Renovadas. Cada ano. Contadas. A cada revoada. Pelo silêncio. Pela claridade. Da esperança. Revoada. Trinta. Quarenta. Cinquenta. Anos. Agora. Fora da conta. Tempo tanto. Tanto. De faz de conta. Desaponta. Luta inglória. Pontada. Hora de ir. Ao sinal. Acaba a espera. Na greta. Ao sinal. No calor. Pela greta. Antes que feche. Antes do frio.
Por vezes. Nos imaginamos. Incompletos. Mas vivo. É que é. 06/2021
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