Livro de poemas ‘Manobra de Heimlich’ revela as artimanhas do sentido pela sombra do signo (In)decifrável | por Fernando Andrade

 
 
 
 
Fernando Andrade | jornalista e escritor

Num jogo tem sempre alguém que dá as cartas. Não é quem fala primeiro. O passador pode ser um ouvinte mudo, que usa o silêncio como forma de dar sentido ao acaso da carta narrativa, onde existe algum mundo muito particular ali para ser parte da narrativa. A posição da carta é importante, dá certa particularidade na sequência do jogo. Mas o silêncio parece ser mais forte na audiência dos leitores narradores que se encontram, não em duelo, pois, um jogo também pode se fortalecer por laços narrativos.
Aquilo que eles movimentam, como os leve bailar dos dedos, um giro ocular do olho buscando um efeito plástico das cartas, também podem ser o fundo da história contada. O alcance da leitura não está apenas na página com sua forma escrita de linguagem de signos. A semiologia do corpo parece ser uma cidade invisível para o entendimento do livro como um todo. Por isso penso no livro de João Gabriel em Manobra de Heimlich, editora 7 letras, como um baralho que soluça (solução?) Em busca das artimanhas de sentidos quando não captados de prima por uma malha de signos que exprimem estética sonora e uma visão encoberta dos vivos.
 Por que os vivos jogam com suas mãos, sombras, na espessa camada dos símbolos. No espaçamento dos significados, que se dizem mais por contradição, ou negação, do que do olho que deixa um fresta da ação escapar. João faz uma poesia do que se faz sentido encoberto, não por semelhança de familiaridades, mas por ocultação  de olhares na não  autenticidade das coisas.  

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