Nélio Silzantov entrevista o poeta Fernando Andrade

INTERSTÍCIOS FERNANDO ANDRADE - Nélio Silzantov entrevista o poeta Fernando Andrade
 
 
 
 
 

NÉLIO SILZANTOV – Quem o conhece sabe que você é um escritor bastante prolífico, com previsão de lançar mais dois livros em breve, sendo um de contos e outro de poesias. Como funciona a sua produção? Você reserva algum tempo para a escrita?

FERNANDO ANDRADE – Não sou um escritor de produzir livro por unidade. Na verdade, passo anos escrevendo e guardando em arquivos tanto a parte de poemas como da ficção. Eu costumo brincar que sou um ótimo editor de meus textos, pois geralmente, monto livros bem fechados no tema e na forma. Junto às partes numa linha de um fio temático e isto falando de um produção de dez anos.

NÉLIO SILZANTOV – Muito se falou sobre esse tempo pandêmico e o reflexo dele nas obras de muitos autores, o que gerou, inclusive, uma certa romantização e expectativas de que isso seria propício para a criação artística e o surgimento de grandes obras. De que modo a pandemia influenciou a sua escrita ou que tipo de relação podemos estabelecer entre os afetos aflorados e potencializados nesse período?

FERNANDO ANDRADE – Este livro já havia sido escrito antes da pandemia. Porém há um poema que é o que fecha o livro que parece se bem me lembro foi feito no início de 2020 numa imagem do coletivo do Caneta lente e pincel, sobre uma foto da Lagoa Rodrigo de Freitas. Este poema junto com um outro no início do livro faz um certa narrativa do momento pandêmico. Costumo falar que trabalho micro-narrativas através de meus poemas. São mito-poemas com células de histórias que lidas em conjunto formam algum tipo de mosaico.

NÉLIO SILZANTOV – Em seu livro mais recente, há uma intertextualidade entre a Poesia e as demais expressões artísticas, como a Música, o Cinema e a Fotografia, e a impressão é a de que essa relação vai além da coadjuvância ou da simples referência. Como você descreveria essa questão fronteiriça?

FERNANDO ANDRADE – Escrevo como um montador, por formas narrativas. E isto quer dizer que estou sempre brincando com os gêneros literários, pois eles me dão a noção do que é a escrita dentro de um certo estilo narrativo. Como crio muitos espaços dentro do que é a forma escrita, as lacunas me dão esta capacidade imagética de criar fronteiras sobre origens e destinos. Escrevo andando sob passos de sons e ritmos, há muita melodia nas minhas pisadas e pegadas poéticas.

NÉLIO SILZANTOV – Outro ponto pertinente em “Interstícios” diz respeito à uma certa angústia emanando dos poemas, o que confere ao discurso um tom ontológico ou crise existencial do eu-lírico. Me fale um pouco sobre isso.

FERNANDO ANDRADE – Acho que existe aí um ponto de ontologia, de saber um pouco sobre um achado existencial de minha parte biográfica influindo no aspecto metaliterário. Por que na minha poesia há um eu questionando o mundo e o universo ao redor. Trabalho sempre com espaços que tentam lidar com certa intimidade do afeto. Este eu sonda sempre as fugas, as tristezas, de um processo de diálogo, de comunicação. É um trabalho que vem com linguagem que transita, que é errante em sua forma de percurso do ambiente nuclear.

NÉLIO SILZANTOV – A recepção da obra é outra angústia inerente à escrita, ou pelo menos para boa parte dos escritores. Recentemente você até fez um comentário numa rede sobre algumas impressões recebidas em relação à forma, gênero e até mesmo sobre a “brevidade” do livro. Como você avalia essa questão?

FERNANDO ANDRADE – Sim, costumo escrever muitos livros num formato breve. Isto me dá a possibilidade de nuclear e individualizar os pedaços de temas que somam cada livro num conjunto da obra. Cada universo em si é fechado, mas cada livro em si conversa com outro.

NÉLIO SILZANTOV – Alguns escritores ficam marcados pela recorrência de alguns temas em suas obras, enquanto outros veem a “repetição” como algo negativo e tentam a todo custo se “reinventarem”. Como você se coloca nessa questão? Haverá um diálogo ou reverberação de “Interstícios” nos próximos livros?

FERNANDO ANDRADE – Eu sou um recorrente em meus temas. E há inclusive certos intertextos entre um poema de um livro e outros logo a seguir. Meu próximo livro se chamará A janela é uma transversalidade do corpo. Terá temas de outros livros, como a dor física, um tema que atravessa vários dos meus. A relação da poética com a prosa está num conto linguista e bem humorado. A animalidade ponto importante no que escrevo estará numa sátira social, em Ode aos ratos.

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