O METAPOEMA EM CARLOS VINHORT | por Paulo Rodrigues

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“confio aos poemas/ toda sorte que abriga minh’ alma”.

 
 

Paulo Rodrigues Poeta Brasil 150x150 - O METAPOEMA EM CARLOS VINHORT | por Paulo Rodrigues

 Paulo Rodrigues

O livro Do Eu ao Outro – Um trajeto poético do Carlos Vinhorth, lançado pela Editora 360º em 2016, apresenta quatro seções que ampliam a semântica dos textos: sonetos de amor plausíveis; faces da vida; este, aquele e outros poemas e para não dizer que não falei de amor.

Carlos é natural de Santa Inês. Venceu vários concursos literários. Faz parte da antologia SAFRA 90 e lançou o disco PERFIL em parceria com o músico vianense Toninho Rabelo, em 2002. Recebeu o título de cidadão vianense em 2005 e em 2007 foi convidado de honra para participar da comemoração dos 750 anos de Viana do Castelo, em Portugal.

A pergunta inicial do ensaio é: o que é metalinguagem poética? A metalinguagem acontece quando o signo explica-se a si próprio. De tal forma, que a poesia quando construída para refletir sobre si, marca este importante fenômeno da linguagem. Carlos é um autor múltiplo, no entanto, guarda parte da produção poética para discutir o poema e a alucinação poética.

Na página 75, o poeta usa a língua portuguesa para pensar a heterogeneidade linguística entre nós:

MINHA PÁTRIA É POLIGLOTA

Minha flor
virou fulô
no mar das ondas caboclas.

Um celeiro de linguagem
bem mais certa
mais errada que se ache

cada língua, uma guerra
de palavras e sotaques.

Meu sol
também é só,
para melhor se faz mió
quem não sabe a cartia
se imbola no próprio nó.

Minha pátria
é poliglota
de mil línguas, uma só.

Chalhub (2002, p.47) afirma: “a metalinguagem, como traço que assinala a modernidade de um texto, é o desvendamento do mistério, mostrando o desempenho do emissor na sua luta com o código. O poema moderno é crítico nessa dimensão dupla da linguagem”. O enunciador tem plena consciência da força da metalinguagem.
Reconhece a dimensão antagônica dos usos das variantes em língua portuguesa: “ Um celeiro de linguagem/ bem mais certa/ mais errada que se ache/ cada língua, uma guerra/ de palavras e sotaques”.

“Minha pátria/ é poliglota/ de mil línguas, uma só”. Marcos Bagno nos ensina que o mito da unidade linguística entre nós deve ser descartado. Carlos repete a ideia da unidade linguística com (uma ironia finíssima). É mesmo uma denúncia da repetição do erro.

A linha discursiva aqui não importa tanto. Buscamos o procedimento metalinguístico na poética de Carlos Vinhorth. Logo, na página 116, o poema MEU POEMA II:

Cadáver esvanecido
relíquia de um ser
de tantas e tantas vezes
cruelmente assassinado.

Dilacerado por vendavais
a golpes feridos de punhais

que sangram arduamente
as veias de seu ego.

Grito sem eco
de um clamor malogrado
que lentamente arqueja
no vácuo
do espaço extremo
da incompreensibilidade.

A poesia nunca é apenas um exercício da razão. O poeta percebe isto e usa o poema para comunicar o grito incomunicável: “Grito sem eco/ de um clamor malogrado/que lentamente arqueja/ no vácuo/ do espaço extremo/ da incompreensibilidade”.

 

Carlos Vinhorth mostra os vendavais e os golpes dos punhais, com um verso carregado de muita musicalidade e metapoesia.

TEXTO: PAULO RODRIGUES – Professor de literatura, poeta, escritor e autor de O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017); Escombros de Ninguém (Editora Penalux, 2018).
Ganhou o prêmio Álvares de Azevedo da UBE/RJ em 2019, com o livro Uma Interpretação para São Gregório.
Venceu o Prêmio Literatura e Fechadura de São Paulo em 2020, com o livro inédito CINELÂNDIA.
É membro da Academia Poética Brasileira.

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