A leveza concisa e marcante de As areias da ampulheta | por Marcelo Frota

lua costa areia da ampulheta - A leveza concisa e marcante de As areias da ampulheta  | por Marcelo Frota

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Marcelo Frota | escritor

MARCELO FROTA FOTO 2 150x150 - A leveza concisa e marcante de As areias da ampulheta  | por Marcelo Frota

Lua Costa é uma autora que transborda sentimentos. Essa é a primeira e mais marcante impressão da leitura de sua poesia. O cotidiano, em sua obra, é explorado de forma leve e concisa, o que torna a leitura de seus versos uma experiência hipnótica. As areias da ampulheta (Ed. Penalux, 2020) traz em si um conjunto de memórias, um amálgama daquelas pequenas coisas que fazem da vida cotidiana algo tão trivial, e ao mesmo tempo tão mágico.

É nesta equação de trivialidade e magia que a obra transita, com profunda elegância, trazendo em poemas ora curtos, outrora longos, porém sempre densos, a alegria e o horror anônimo do dia a dia. Levanto a questão do “quantas vezes”. Quantas vezes, durante um passeio, ou em uma noite insone, pensamos no sentido da vida? Quantas vezes, durante a leitura de um romance, ou de uma poesia, pensamos no significado além das palavras escritas? Quantas vezes nos deixamos maravilhar com um pôr do sol, ou uma noite estrelada? As respostas estão, de alguma forma, e de um jeito próprio no íntimo de cada um de nós, mas também, com um olhar atento, na poesia de Lua Costa.

A poesia extremamente concisa dos versos de Lua Costa, são um atrativo a mais para a reflexão. Ao enxugar seus versos, a autora nos deixa com uma sensação de porvir, e esse porvir, é um dos pontos fortes do livro, pois, faz com que o leitor mais atento, reflita sobre o sentido do poema além do poema, construindo uma narrativa que mentalmente, complementam os versos. Essa possibilidade de refletir faz com que o livro cresça em significados, trazendo para a página impressa, as vivencias de cada leitor.

É com essa possibilidade de desenvolvimento e inquietação que Poeminha marítimo adquire a imensidão do mar: “O amor é alto mar,/meu amigo./É melhor não mergulhar/se não estiver disposto/a nadar.” O amor é mar revolto, noite de tempestade, erupção vulcânica, não é para os fracos, tampouco para os pobres de espirito. O amor, como bem disse o poeta Charles Bukowski, “é para aqueles que aguentam a carga psíquica”, nunca uma condição de marasmo ou comodidade. Amar é como o mar, para amar, é preciso estar propenso a encarar a imensidão, disposto as dores e os horrores que vem desse sentimento que, pelo menos uma vez na vida, nos faz mais humanos, mais dispostos a “mover montanhas”, nos humilharmos, nos expormos e entregarmos. Amar é para os fortes de coração, já disse eu mesmo, em um poema do meu livro O sul de lugar nenhum.

Em Memórias, a lembrança, é o que move os versos que discorrem sobre pequenos momentos que reunidos, formam um mosaico de sentimentos. “ São fotos, uma flor seca, uma pedra,/um sorriso, as cores de um dia, um toque,/um beijo, uma lágrima, sensações revividas…/denovodenovodenovo./Até que nos tornemos parte delas.” São as pequenas lembranças aquelas que voltam em momentos de solidão, distanciamento ou abandono. A memória de um toque, de uma música, um livro, um filme, uma tarde de chuva, definem amizades e amores, laços que com a cultura ou a beleza da natureza, se fazem únicos, se fazem especiais.

Com sua delicadeza profunda e a leveza de seus versos, Lua Costa constrói a narrativa cativante de As areias da ampulheta. Os versos de Costa são aqueles que precisam ser apreciados/absorvidos aos poucos, com um café ou muitos cafés em tardes e noites de silêncio e contemplação. Um livro para ser apreciado em pequenas doses, e grandes reflexões. E se houver chuva, tanto melhor.

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