Biografia da cantora Maria D’ Apparecida por Mazé Torquato Chotil entra em todas as nuances cromáticas da cantora | Fernando Andrade

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Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura

Todo artista no universo da arte tem lacunas deixadas durante sua vida em imersão da criação artística. Até porque a arte deixa a quem consome, seu leitor, espectador, uma página em branco, que o próprio vai preenchendo com sua entrelinha de afeto sobre determinado cantor, compositor, escritor. É o espaço da imaginação que toda pessoa que produz e consome arte, numa relação de desejo, vai e volta entre quem faz e quem absorve. O autor que escreve uma biografia, quando aborda a vida do autor, escreve sobre o biografado com estas pegadas de nuances filigranáticas; as afecções sobre alguém só se darão pela parte subjetiva do exercício da atuação de determinado artista. É o que acontece com a biografia da cantora Maria D’apparecida intitulada, Maria D’ apparecida negroluminosa voz, um esboço biográfico, da Mazé Torquato Chotil.

A escrita biográfica tem um certo compasso, entre o espírito jornalístico e uma certa prosódia melódica, onde o ritmo e som pela andança das palavras devem seduzir que lê. É exatamente isso que faz Mazé, num fluxo contínuo de informações detalhadas, e apuradas do universo familiar da artista, sua formação no magistério. Passando pela escolha de Maria, ao universo musical, quando falaram que ela tinha uma voz lírica para canto. A autora deixa o texto fluir numa costura ou bordado da conduta estética que uma pessoa faz na densidade da voz dentro de uma simetria que parece dizer que o canto é uma relação com o extensão íntima da pessoa, que toda postura perante o palco, ou atuação tem muito de si, quanto caminho na vida.

O texto absorve no leitor toda noção de curiosidade em como se deu a vida pública da artista, a gravação de um disco na gravadora Decca, o envolvimento profissional no começo da carreira com Waldemar Henrique, que a levou a França algumas vezes para apresentações. O encontro com o artista plástico Félix Labisse, a parceria com ele como modelo dos quadros azuis, que ela posou, sendo que o pintor era uma amante da cultura negra brasileira. Mazé destila com seu tom pincel, toda afetividade destas relações, criando nuances, paletas cromáticas da subjetividade de Maria.

Depois, o envolvimento da cantora com o cinema, participações em filmes com a obra de Kafka. Vindas ao Brasil para se apresentar, a escolha dela para a ópera Carmen, que foi amplamente divulgada na imprensa e comentada em sua atuação portentosa. O aspecto humano, suas dúvidas, incertezas, também são acolhidas pela escrita de Mazé. Como quando sofreu um acidente de táxi no Rio e machucou, seu medo de perder a visão, medos e traumas que fazem ela guinar sua carreira para uma proximidade com a cultura do país.

A escolha para cantar MPB escolhendo Baden Powell, para com sua voz, tecer releituras da obra do autor. Entrevistas e depoimentos, aqui, e sua amiga Mara a acompanhando nesta travessia. Toda uma tessitura que o leitor acompanha na delicadeza e atenção da escrita da autora dentro da alma azul de Maria.

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