Palavras estéticas | conto de Fernando Andrade

o nu em freud LITERATURA E FECHADURA . - Palavras estéticas | conto de Fernando Andrade

Lucian Freud – o-nu


 
 

Palavras estéticas

O homem sentou na frente de seu analista. Mal o olhou nos olhos, encarando-o. Tenho loucura por palavras estéticas, Doutor. E o quê isso? Passagem —-personagem,

Palavras que mantém sons, semelhanças, e sentidos, quantos mais próximos, melhor. Ainda poderia lhe dizer que vi ontem uma linda paisagem…

Entendo… E como você monta estas palavras na sua mente? Como quebra-cabeças?

Sonhando acordado.

Seria algo como um transe; me desligo do real e entro num estado totalmente fantasioso, parece que escuto a voz de uma narradora. *Algo mais estranho que a ficção.

Em qualquer situação de sua rotina, atravessando a rua? Sim, doutor, outro dia falei para um motorista – me dê passagem, sem a mínima vontade de exprimir, por puro acaso. Estava aflito num estado destes e me vi soltando esta frase imperativa. Me dê passagem. E… Tudo transcorreu sem casualidades desastrosas. Atravessei a rua com o sinal aberto e o carro, não sei ao certo se o motorista escutou.

 
 
Parecia eu estar sonhando com travessias…

E o carro parou. E as palavras encaixam no seu lugar ou rua de maneira certa?
Ando tão desligado, você reconhece isso? Por que deveria? Uma canção da Rita Lee, quer dizer dos Mutantes. É como eu me sinto, uma certa mutação onde vigília e sonhos se interpenetram. Já tentou embolar duas palavras neste meio de campo? Ando tentando botar o personagem na fita, mas estou ainda dentro de um escopo muito real. Por mais que eu dessintonize, eu nunca abri brechas para uma ficção deslavada. Você já viu um filme chamado
Mais estranho que a ficção? Nunca, porquê? Veja e comente… Quando abro os olhos do sonho vejo só o evento, e abro a boca para dilapidar uma palavra que parece solta, mas ela, doutor, se encaixa tão perfeitamente…

Quando falo personagem, eu preciso estar atento ao novelo de uma ficção, tipo uma situação que não se encaixe tão real: algo bom e surrealista. E nunca encontrou-a? Infelizmente. Sou bem rotina, assim meio preto no branco; ao pé da letra. O senhor não acha que sofro de;;; Pelo que o senhor me diz, tipo Rosa purpura do cairo. A sua imaginação vai até certo ponto e recua diante do que definimos como o princípio da realidade ( ). Não sou tantan? De forma nenhuma; diria que você originou um tipo de palavras cruzadas com sua própria vida. E isto é bom? Volte mais com novo material.

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