por Marcelo Frota
A obra Desligue os Pontos (Editora Penalux, 2020) é de autoria de Ariane Dias, trás uma poesia que a primeira vista não faz sentido. Começa de uma forma e termina de outra bem diferente, não segue uma linearidade, parece que adentramos a um emaranhado de fios soltos e enrolados, tipo um fio de linha de lã quando desmanchamos o novelo.
De cara, me vi mergulhado em uma cena meio que habitual, pelas palavras da autora me senti como na obra Toda Poesia de Paulo Leminski, pois Ariane nos trás um humor, por horas branco e outrora negro, mas ao mesmo tempo você consegue desenrolar os nós da lã e ver com certa leveza e os sentidos de cada poema.
A temática de cada poema é singular, bastante variada, assim como Leminski, tudo acontece de forma cronológica que você leitor deve desvendar. Ao virar das páginas, você pode encontrar um poema que carrega uma tristeza, que carrega a dor, o sofrimento, a ilusão ou quem sabe desilusão.
Mas assim que olhar para o lado, ou se virar novamente a página, pode se deparar com um poema que te faz rir, chorar de alegria, que traga aconchego ou quem sabe esperança. Os poemas estão divididos em quatro partes, contando que cada parte não agrega só um tema.
Durante a leitura, assim que virei à página, me deparei com o poema intitulado Pureza, onde pude sentir como se fosse embalado em uma rede, sentindo a brisa tocar meu rosto, saciando minha sede com uma água de coco. Espero que se sinta assim quando ler “Não sou tão poesia assim / Não sou tão louca assim / Nem sou tão / Nem sou tua / Sou pura / Pura / Literatura”.
Mais adiante na leitura me deparo com o poema intitulado Ambivalente, me coloco no lugar das mulheres, que são violadas cotidianamente, mas não fala só da violação física, como da espiritual, da intelectual, dentre tantas outras. Você vai ver isso também quando ler “Nascer mulher / Nascer fora da lei / Viver fora da linha / Marginalizada / Como propriedade / Propriedade pouco privada”.
No mesmo poema pude sentir como se ainda pudéssemos ter esperança nesse mundo louco ao qual vivemos. Um mundo carregado de desrespeito e desumanidade, mas vejo a esperança renascer como um flor que abre caminho pela terra sinto isso ao ler “Abençoada seja / Vossa ambição / A vontade de tomar / O que dizem que não pode / Ter em suas mãos”.
Acredito que você, caro leitor, vai adentrar a essa obra e mergulhar nos diversos sentimentos, sentido que a vida nos dá, pois Ariane Dias em Desligue os Pontos, vai fazer você ver a si mesmo em capa poema, em cada verso, na mais sutil das palavras lidas.
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