Cinco poemas de Jonas Pessoa

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JONAS PESSOA DO NASCIMENTO é cearense radicado em Brasília. É poeta, professor com pós-graduação em Língua portuguesa. Autor de O Grito (2010), Pedaços da Existência (2013), Palavras Trocadas (2015), Faces da (in)Diferença (2016), Lamentos (2017). Em 1993, foi um dos vencedores do “Salão de Dezembro de Poesia – Prêmio José Sarney de Poesia” com o segundo lugar nacional. Em 2018, foi vencedor do I Prêmio Amazonas de Literatura com o livro Chão Partido. Possui poemas inseridos em algumas antologias e sites especializados em poesias. No Facebook, é autor da página poética Poesia da vida.

 

 

I

RETENÇÃO

Nesta última semana,
a solidão se ampliou,
tenho urgência de sorrisos,
necessidades de abraços,
quero pular deste avião
que me transporta para longe de mim.
Os dias e as noites estão mais cruéis comigo,
como se fossem fumaça sem fogo
a me irritar os olhos,
a brisa que vem de fora
bate na parede de casa
e volta a assanhar as
árvores de onde partiu.
Os dias parecem um garimpo explorado,
os buracos são sobras que os homens
deixaram nos meus caminhos,
não há mais felicidade no rosto
das pessoas, a dor contrai
os sorrisos e mata toda
expressão de alegria.
Nada incomoda mais que o silêncio,
a respostas às súplicas
não se apresenta como desejamos,
cada um de nós é uma ilha
cevando as cobras que habitam
nosso interior.

Uma carga de cansaço
arrasta o corpo para a solidão,
a insônia das noites
faz assentar a fumaça
espalhada nos olhos
debaixo de estrelas semiapagadas.
De manhã, o tempo cinzento
volta e tudo se faz turvo
e a luz do sol é como um fantasma,
não a vejo chegar nem partir
enquanto esta fumaça
não se dissipar de minha visão.

 

II

INTERDIÇÃO

A estrada está bloqueada,
por ela já não chega ninguém,
há quem esteja esperando graças,
mas até as histórias de amor estão vazias,
seus agentes estão separados,
a flecha do cupido está quebrada.
A porta aberta dá para o nada,
o sol está a pino,
o vento, abafado,
o lago, secando,
consumido pela terra,
como uma fruta pela formiga.
Há uma mulher doente em casa,
com os olhos fechados,
ainda respira e sonha

com canteiros de flores
no jardim, mas não pode sair,
suas pernas estão fracas,
são rodas velhas de automóveis,
descartadas depois de multa.
Perto da morte,
ficam para trás muitas coisas,
tudo fica como paredes velhas,
frias, descascadas pelo tempo,
vêm lembranças e lembranças
e a que dói mais é a de quem
partiu levando um pouco do sol
que nos dias frios deixa tíbia a vida
conduzida por mãos alheias.

 

III

SILÊNCIO

Penso sem nenhuma palavra,
o silêncio está parado em mim,
até o relógio deixou de fazer tic-tac,
para fugir dessa calmaria,
tenho um barco encalhado nas pedras.
Há tempos deixei de sonhar com cifras,
o que não significa que desisti de tudo,
não escrevo para os críticos,
uma árvore no meu quintal
esta semana morreu de solidão
e não tenho mais sombra
nem melodia de pássaros.

Não posso sair de casa,
o carro está engasgado
com uma pedra que havia
na sua bebida,
ninguém precisa de mim
se minha boca está em silêncio.
No aniversário me deram uma pá,
associei o presente
a um túmulo, pois minha boca
está sempre fechada,
quero tirar do peito
asse filhote de cachorro
a ranhar o meu silêncio
e ver a minha sombra me contemplando
na mudez de todas as horas.

 

IV

ADVERSÁRIO

O destino joga contra nós,
em algum momento,
perdemos algo que
fazia parte de nós,
quando o vento se vai,
notamos que estamos
com as mãos vazias.
A língua às vezes não
possui as palavras
e também se cala
como pássaro que deixou
de cantar no nosso quintal.

Meu ser é um menino
sem chinelos, sentado
no meio-fio, em frente
a um restaurante se alimentando
do asco que sai da boca
de quem entra e sai vestido
com a pobreza espiritual.
Trago nos lábios uma cicatriz,
um arame farpado estava
estendido na minha infância
e perdi sangue, e foi
uma perda que me retesou
a liberdade de seguir.
Perdi também o que eu queria ser,
secou a água da chaleira,
a visita que viria à minha casa
perdeu a hora do encontro
e me encontro agora perdido
com o pó de café na mão

 

V

QUADROS

Da minha infância,
há quadros vivos,
como uma luz,
entrando na minha memória
mesmo com a porta fechada.
Contemplo calado uma felicidade
de pés descalços pulando
as poças da chuva

que escorria na cumeeira
da casa onde morava.
Meu amor está deitado,
repousa na mente, cheirando
a tinta fresca em um quadro
que nos olha imóvel da parede da sala.
Em um dos quadros,
há uma praia de mar azul
cheia de morros cujas ondas
quebram em minha cabeça.
Tudo são lembranças,
o que não me tornou selvagem
domou-me a vida,
aprendi que a memória
é como a seiva que escorre da boca
quando a alma infla,
cheia da luz que entra
pela fresta da porta
mesmo estando fechada.
O tempo, agora,
açoita-me o corpo,
estou longe do que vivi,
na minha boca não há
mais o sabor do que
nutriu-me a mente
nesta solidão de felicidades.

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This Article Has 1 Comment
  1. Roberto Monteiro Reply

    Senhoras e Senhoreses!!! ou o poeta exacerbou o seu eu lírico, ou a pessoa poeta está a beira da depressão… sinceramente, desejo que seja a primeira alternativa…

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