Livro de poemas A cidade do tempo cão traça uma poética de relação do eu lírico quando vagueia por uma urbe arquetípica

FLAVIA PATUA - Livro de poemas A cidade do tempo cão traça uma poética de relação do eu lírico quando vagueia por uma urbe arquetípica

 

Fernando Andrade  | jornalista e crítico de literatura

A cidade canção não é romântica. Traz versos e avessos de um discurso que muitas vezes tem seu lado B como aquele vinil bolacha que hoje guardamos como relíquia. A cidade canção tem seu cão na corda com mordidas leves que lemos ou levamos até num certo samba-balanço de ir por aí pelas quebradas. A canção já dizia poeta é a melhor amiga humana. Ela não trai, pois, resvala na filosofia de botequim, na ceva com pastel com linguiça e não indigesta nenhuma poética bairrista. Ela é universal em seu verso \credo.

O cão que passeia por São Paulo é o mesmo que transita pelo Rio? Aqui temos O Rio de Janeiro continua lindo, e lá temos alguma coisa acontece no meu coração. Não há como dizer que uma é melhor que outra, porém, Sampa parece mais travestir-se em ficção poética, em espaços de branco-página mesmo que o sinal esteja vermelho. Sampa é o paradoxo da civilização; é o cão candeia-cartola, samba de )a)corda trama, tessitura de palavras híbridas de azulejos alentejanos.

Por isso vejo sampa daqui, de um ônibus leito-sonho, não viajando fisicamente, mas sim, na poética da escrita de uma trovadora que excita sentidos à flor da pele que redime corações em batimentos estrofados. Flávia Andrade em seu novo livro de poemas A cidade do tempo cão e outros poemas de fissuras, editora Patuá, transita em percurso ou transcurso de uma territorialização do espaço urbano na linhagem poética dos traços, becos, vi-elas musas. Sua poética se mimetiza com a experiência biográfica de um flaneur que horizontaliza e esquadrinha São Paulo em busca de não respostas, e sim suas perguntas-esfinges sobre como o pessoal – aquela foto em que viu a personagem dando um beijo numa entidade tão poética quanto um beija-flor, se mistura com o coletivo, aqui não uso a via de transporte, mas sim, uma síntese geral da geleia geral que é um macro-cosmos urbanóide.

A linguagem infiltração do coloquial como acadêmico não tagarelice, desfaz fronteiras de gêneros, onde ensaio é pura amizade com o poético e o ficcional. Aqui vejo uma cine- montagem como os frames poéticos que modulam de linha em linha a velocidade espacial de não denotar sentidos tão literais em sua ocularidade. A poeta sedimenta o que um cidade pode ter de semelhança com o corpo biológico, reflexo por desenhos miméticos, condições por suas razões, portanto está no limiar entre a animalidade e sua humanidade.

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