As feridas abertas por “paraízo-paraguay” | por Airton Souza

Marcelo Labes literatura e fechadura - As feridas abertas por "paraízo-paraguay” | por Airton Souza

 

 

por Airton Souza

“paraízo-paraguay” é o romance de estreia do poeta e editor Marcelo Labes. O livro foi impresso no papel pólen 80g, e possui 170 páginas. Essa obra venceu em 2° Lugar o Prêmio da BN-Biblioteca Nacional, na categoria romance, em 2019, um dos prêmios mais importantes do país.

O romance, a partir do simbolismo de uma chave guardada na mão de uma das personagens – Olga – recria a gênese de um espaço – o paraízo, tendo como enredo uma parte significativa da história de horror em torno da guerra do Paraguai, e da formação identitária de uma família de imigrantes. O livro retoma o poder da oralidade e traz para dentro das cenas a força da história, da memória e das verdades.

Através da memória – memória é fagulha, uma lembrança puxa a outra. Memória é mistério, um perigo! – a narrativa traz à tona as histórias da guerra, do êxodo, da formação familiar, da busca de compreender a si e aos outros. É como se ‘paraízo-paraguay’ estivesse pronto a legar aos nossos olhos a potência simbólica de mostrar o quão desconhecido somos nós, ainda. Por isso, o mote sentimental do livro é, sobretudo, o horror. Um horror que é capaz de nos humanizar, porque esse horror é, além de territorial, um signo que transmuta os personagens, e faz de nós cúmplices das relações afetivas, que estão, por exemplo, imbricados na saudade para sempre abraçado ao índio Pepe.

O livro é repleto de perguntas. Todas as inquirições abrem outras lacunas em nós e em nossa história. ‘paraízo-paraguay’ é metáfora de céu e inferno. Ressignifica, ao longo do enredo, a vida e a morte. Aproxima o profano e o sagrado, como se ambos pudessem remediar as feridas abertas pela guerra do Paraguai, a violência do processo imigratório, e o horror sofrido pelos povos indígenas nas Américas.

‘paraízo-paraguay’ é o romper do silêncio, como a imprescindível maneira de não calar, diante do horror de si e do outro. Assim, o enredo expõe, sentimentalmente, outras maneiras de acender o passado, e manter o um elo com o presente, como um processo de reconstrução do agora. Marcelo Labes, com o ‘paraízo- paraguay’, recriou a nossa terceira margem vingativa. Uma vingança necessária aos que não souberam lidar com as outras margens.

 

Airton Souza – poeta, professor, e leitor. Publicou 38 livros e participa em mais de 90 antologias. Já venceu mais de 70 prêmios literários. É mestre em Letras, pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Seus poemas já foram traduzidos para o espanhol, inglês e alemão.

Airton Souza Literatura e Fechadura - As feridas abertas por "paraízo-paraguay” | por Airton Souza

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