Resenha | Livro de poemas Painel cria, na forma, o mundo como ele é, em seu discurso de perda do sentido fixo e não deslocável | por Fernando Andrade

painel penalux - Resenha | Livro de poemas Painel cria, na forma, o mundo como ele é, em seu discurso de perda do sentido fixo e não deslocável | por Fernando Andrade

 

 

por Fernando Andrade | jornalista e crítico literário

Uma frase não é um efeito poético? Mas o que ela pode se diferir de um verso? Quando damos uma ordem simples e funcional em uma frase, estamos colocando uma certa intenção de mensagem a alguém. Ali não há, ou até pode ter certa ambiguidade. E se o autor fizesse um verso sobre esta ordem. Criaria um slogan? Chamada publicitária? Andamos na rua como posicionamos palavras pé ante pé sobre uma frase. Escrever é um pouco como caminhar. Tem movimento ou deslizamento, tem o ar que se respira ou a frase não teria seu ritmo. A poesia, ela, rompe com o andar presumido da frase. A poesia levita seus sentidos fraseados com aquela sensação de dança e anca que o autor pega palavras avenidas que atravessam linhas, páginas e mais páginas que abrem o sinal do sentido.

A poeta Alexandra Vieira de Almeida, em seu livro de poemas, Painel, editora Penalux, traça poesias através de frases não solitárias, muitas delas, seguem a segunda linha ou terceira. Atravessam o sinal fechado do emitir juízo apenas pelo objetivo de informar. Não, informação é levemente segura. Nos poemas da poeta há ali uma bifurcação ou encruzilhada de sentidos ou orientações significantes. É como um jogo de bem e mal com as intenções que se chocam pela expressividade verbal da poeta, mas também, de um jogo semântico de dualizar a coesão do mundo.

O fim do verso parece que está no inferno, onde pulsões criativas se degladiam para expressar o início que começa sempre concreto, com algo substantivo. Como se a função empática da frase que inicia de forma certinha sofresse um surto onde o espírito de Dioniso molhasse o corpo das palavras de vinho-sangue. Não há como classificar os poemas como surreais, pois eles perpetram faticidades em certo deslocamento do fraseado.

As informações que hoje passam pela mídias sociais são muitas vezes falsas. Perdem a integridade do fazer sentido. Elas não são poéticas, a mentira falseia a prática da pulsão do significado. Alexandra cria uma interessante teoria sobre a origem do conflito entre forma e seu conteúdo semântico como elemento que ordena o mundo. O sentido literal e figurado transliteram-se em seu livro descontrutivista.

 

 

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