Três poemas de Felipe Nascimento

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A cidade mais romântica é São Paulo
Com seus prédios ofendidos,
Janelas de olhares esquivos.
A Veneza de abundante leptospirose
De palhaços zumbis pedintes.
A realidade é reflexo insosso dessemelhado de
Qualquer coisa que abstraímos
A tristeza mecânica tem hora de chegar.
Simples baixar de sobrancelhas,
Simples rememoração absurda de mentiras infantis.
Renasce o homem de terno vomitado
Como criança, abre um berro inédito a vida
O corpo ganhando conhecimento de que está morrendo

 

 

Nascem cachorros na rua,
Flui a vida entediada pelas lanchonetes.
O supermercado é um herói que nos condena,
Nos afaga e diz:
“Um dia você vai ser alguém, mas só um dia”

Flui a vida pelas minhas veias:
Já estou morto amanhã.
Irão fazer um velório e me esquecer lentamente,
(A dor é tão lenta e tão seca, mas nada que uma chuva faça escorregar)

Os cachorros sabem serem felizes.
E tem a consciência de que a vida é uma brincadeira,
Uma das piadas mais desiguais.

 

 

Três tias loucas

É impossível evitar as três tias loucas.
Que compartilham do mesmo fio e da mesma visão.
A três tias loucas jantam juntas.
Eu me distraio com os retângulos da vida
(Os celulares, os retratos, a tevê).

O dente que elas compartilham
(Ouço o som das mastigações)
É sujo, velho e fino.

As três tias loucas deixam tudo para apodrecer.
Não estão para consumir.
Depois de jantarem
Contam-me histórias e me fazem máscaras.

“O nome dele é Pedro,
Não, me lembro de ser João,
E eu Paulo”
As três tias me erravam e mesmo assim me criavam como novo.

A cada erro, ficava a marca de dedo no meu ser
E eu não sei mais ser ninguém.

As três tias não deixavam minha casa.
Dormiam no meu colchão,
Me abraçavam,
Eu sentia o bafo molhado.
A umidade que trará musgo para o meu ser.

As três tias loucas.
Nunca soube os nomes delas
Elas dizem que nunca são mais as mesmas.

 

Felipe Arruda Nascimento (2000) é estudante de Letras da Unisanta EaD. Nasceu em Santos, descendente de nordestinos, mas logo cedo se mudou para Praia Grande, onde vive até hoje. É editor da Revista Média Santista e lançou seu primeiro livro independente em 2019, no primeiro semestre, chamado A Alegria é Surda. No segundo semestre do mesmo ano, publicou O lado sensacional da vida é o meu ou livro dos mortos (https://www.editorapatua.com.br/produto/112564/o-lado-sensacional-da-vida-e-o-meu-ou-livro-dos-mo). Gosta de ler desde que aprendeu, mas só conheceu a poesia aos 12 anos, a partir de aí nunca mais a largou.

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