FERNANDO ANDRADE – Jornalista e crítico literário
Muitos contos são como cortinas que deixam passar apenas parte da luz dos signos de forma que o descortinado da ação se revele apenas por nuances ao desenhar personagens que teçam a ação do evento dramático. Parte do recorte do bom conto é sugestionar ao leitor aquilo possa ter de sua interpretação, algo que paire sempre como uma réstia de dúvida. E isto é uma especificidade do autor da narrativa breve, deixar que o espaço do conto possa também ser semiotizado pelo leitor.
Percebi muito desta sincronias no livro de contos do escritor Adriano de Andrade, A umidade relativa das palavras, (editora Jaguatirica) onde o autor com personagens críveis mantém uma capacidade de entrar na zona de penumbra em que os pensamentos das criaturas constroem a própria carne de uma humanidade quando a psique dos personagens desencadeia catarses emocionais. Vemos que a ação não é plenamente visível, na lente do primeiro plano da leitura, entrevemos a superfície, mas vislumbramos, o cerne dos conflitos interiores que são expostos à meia luz pela matiz da sua escrita.
E aqui nestas teias onde o fundo ou a profundidade não é iluminada totalmente, nos aparece cenas ou zonas do insólito, do fantástico entrevendo nas brechas da histórias de Adriano. A autor faz dos estilos integrados, realismo, com algum item sobrenatural, a tessitura dos gêneros narrativos com mão segura, e competente, uma combinação onde cada superfície não se separa da outra. A trama entre o efeito de sugestionar climas é muito bem imbricada com a ação primária do curso de ação.
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