ENTREVISTA | O escritor Eduardo Villela entrevista o escritor e crítico literário Fernando Andrade

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Eduardo – Os contos-poemas de Logarítmo-sentido parecem, boa parte das vezes, cuidadosamente pensados devido a um caminho de conexões semânticas ou de ideias. Qual o lugar da inspiração e o da elaboração em seu trabalho? Você primeiro deixa as ideias fluírem, ou desde o início pensa em cada palavra antes de colocar no papel ou na tela?

Fernando – Como os contos partem sempre de uma motivação do tema do clube da leitura, parto claro de uma visualização temática, para depois criar um foco de frases, sempre começo por elas. Algo próximo de um busca pelo primeiro verso quando estamos à burilar um poema. Não sou muito de puxar o fio de um tema refletido antes da escrita. A frase é o fio que desemenda o bloqueio da página em branco. Pode ser até aquela frase estética solta como um bom verso. O raciocínio a partir daí se conecta com o signos desta frase e coisa anda.

 

Eduardo – Você revisa, muda muito seus textos? Ou considera melhor não mexer muito na matéria bruta?

Fernando – Mexo naquela parte onde há um tipo de desleixo léxico com o sentido. Faço ali uma segunda leitura, trocando palavras, mexendo na pontuação, vendo a rítmica ou a musicalidade do conto ou até do poema-conto. Mão não toco muito na dimensão geral da narrativa, pois acho que desfigura a coesão do sentido, que quis passar.

 

Eduardo – É possível perceber em seu livro, muitas vezes, certa releitura de um caminho lógico racional já estabelecido, enriquecendo-o ou até o corrigindo. Que papel ou lugar tem o racional, lógico ou cartesiano em seu pensamento no dia-a-dia?

Fernando – Acho que este processo de ilogicidade do racional ou quebra do aspecto cartesiano se dá pelo o quero: dar ao movimento do texto uma dança, uma ode circular, onde até certo ponto pode haver um embaralhamento de sentidos que se deslocam pelo espaço do texto. O racional é algo como uma tabela de certas ideias que prontificam hipóteses ,ou não, sobre as significações do texto.Como disse o Leonardo-Villa Forte danço lúdico os sons e a materialidade das palavras; elas parecem vibrar nas polissemias.

 

Eduardo – Seus livros anteriores são de poemas. Este livro é de contos que parecem poemas em seu conteúdo. O que o fez mudar a forma dessa vez?

Fernando – Tentar narrar os gêneros podem ser algo tão intrínseco ao texto e não só no estilo ou classificação do conto ou poema. Hibridizar formas para desferir o nocaute ao rótulo, que ao meu ver é o inimigo número 1 de um autor. Um autor rotulado não é a pior desgraça que pode acontecer?

 

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Eduardo Villela nasceu no Rio de Janeiro, em 1979. Seu livro de contos “O Interesse pelas Coisas” foi publicado em 2017 pela Editora Moinhos. Com o conto “Genética”, foi finalista do concurso Brasil em Prosa, do jornal O Globo com a Amazon, em 2015. Tem contos publicados em diversas antologias de autores e participa do coletivo Clube da Leitura, no Rio de Janeiro. Atualmente escreve seu primeiro romance.

 

 

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