Romance ‘Jenipará’ colore-se de linguagem poética ao mapear um imaginário amazônico

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Fernando Andrade/ crítico literário e jornalista

 

Palavra dá em árvores. Mas qual? Seria o fruto da palavra, seu adjetivo, sua qualidade de colorir estados, aqui sem saber do estágio: sólido, líquido. Bendito o fruto do vosso ventre, uma frase religare. Da eucaristia da palavra: o sopro se fez vida. Podemos olhar alguma liturgia na natureza com sua manifestação vistosa, colorida e multiforme? A palavra deriva da semente, pois no cerne das duas, cria-se (ver)bo o mundo. E pela palavra (regi)ão-mundo se faz literatura…

Oração não só na reza, como na partícula particular da frase fraseada poética. Árvores são feitas de palavras, de gomas de mascar (marcar) palavras, como a seringueira – a borracha…
Neste universo tão norte tão bonito, a poeta e escritora Graziela Brum, em seu primeiro romance, Jenipará, editora reformatório, hibridizou o fruto do cálice (que disse Chico, já sumiu com palavras da liberdade – das palavras lutadoras). Cálice que brota do tom sereno, seiva de uma linguagem plural que descobre por entre ramagens personagens, Joane, mãe, bem-vinda, filha. Zé bidela e sua trupe, à qual tropicalizam terras ventre Jenipará, vilarejo no norte, ali deitado nas águas berças amazônidas. Graziela cria uma espécie de tropos da relação entre ambiente-lugar e um relevo de personagens que permeiam ou se entremeiam com a natural-idade do lugar.

A autora recria este universo com uma linguagem febril e vibrante onde a etnografia do lugar se imbrica com um estudo da língua ou do colorido maticial que brota de cada veio de terra de cada broto de flor, caldo linguístico entre prosear mitos e poetizar narrativas. Há um certo realismo mágico não por conta de uma relação fantástica dos personagens com o ambiente, mas sim, com a própria derivação da linguagem com o meio que frutifica estados aquáticos pelo entorno amazônico. Repito, personagens como Joane que dá à luz Genara, Zé Bidela, e seu núcleo seringueiro, toda uma tonalidade estética e musical olvidando em rádios com prosa – poética, poemas iniciáticos-declamantes, de amigos. Tudo fluido e fluindo na mais certeira onda frequencial.

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