Leitura de “Logaritmo sentido” de Fernando Andrade/ por Adriana Vieira Lomar

LOGARITMO SENTIDO - Leitura de “Logaritmo sentido” de Fernando Andrade/ por Adriana Vieira Lomar

 

Por Adriana Vieira Lomar

 

      Fernando Andrade brinca de forma surpreendente com a forma. Os seus contos traduzem-se em curtas e variadas histórias. Os poemas em contos e os contos em pequenos romances.

       Quando se tira a literatura do viés “deve ser assim” enriquece-se muito a arte da escrita. Ao destrinchar e dissecar o som, Fernando nos remete as novas experiências e perspectivas.

       O que seria da literatura sem os experimentos?  Um tratado sobre o mundo e sobre as sensações feitos de forma clássica. Desconstruir a narrativa é o que Fernando faz de melhor em seu ótimo Logaritmo sentido.

      Ferreira Gullar certa vez disse que para desconstruir é necessário saber de cor os preceitos de uma boa narrativa. E foi essa a sensação que tive ao ler “Mark”, “Trump e seu trompete” entre outros contos. Os contos de Fernando são a prova viva de que a sonoridade nos provoca. O eco dessas sensações desdobra na transgressão da palavra, sem a contumaz e monótona descrição que nada acrescenta, não sendo de modo algum uma forma de antecipar o sono.

   Fernando dá  um salto ao transgredir…  São os saltos, sem dúvida, dão o movimento à literatura. Afinal de contas, a arte deve acompanhar o tempo.  Certamente para ser viva, necessita falar a voz da ruas e batucar no coração de quem  lê.

    Como leitora de  Logaritmo Sentido , editado em 2020 pela editora Penalux,  permiti-me desvendar os caminhos propostos pelo escritor e poeta Fernando Andrade.

    E o que me resta dizer a não ser agradecê-lo pelo impacto da desconstrução da forma.

Transcrevo abaixo parte do texto “o despertar do galo”:

“ (…) Vou para o quarto e abro a janela para a paisagem de uma cerejeira em flor. Desço da janela. Ali naquele lugar, entre o jardim e um córrego costuma ficar em posição de buda um lagarto todo escamado, um ser entre a terra batida do jardim e a água corredeira do córrego”(…)

O livro “logaritmo sentido” entra e sai como uma boa música, versos a nos acalentar do universo tosco em que estamos vivendo. O grande personagem é a própria literatura alcançando a modernidade, a era dos iphones, ipads, da ausência do tato, do olho no olho e da voz carregada em emoção ao dizer alô e parabéns em dia de aniversário.

A linguagem de “logaritmo sentido” é  breve, mas nem por isso deixa de ser profunda. O leitor se encarrega de traduzir a escrita inebriado seja pelo som, pelas fórmulas logarítmicas onde se encontra o arsenal de histórias  propostas pelo escritor. O  livro miúdo em tamanho se torna gigante em ideias e novos caminhos. Enriquece a literatura, revigorando-a, fazendo com que atinja o leitor e o faça refletir.

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