Romance “Curriculum Vitae” satiriza a vida produtiva numa sociedade que desvirtua a privacidade dos seus célebres profissionais

felipesouza - Romance "Curriculum Vitae" satiriza a vida produtiva numa sociedade que desvirtua a privacidade dos seus célebres profissionais

fernando andrade
jornalista e crítico literário

 

Um entrevistador de vagas de emprego de RH está procurando descobrir quem você é. Exclusivamente a sua capacidade produtiva.

Portanto, fique tranquilo, ele não falará de sua vida pessoal, a não ser que você dê a deixa de algo-insólito-suspeito, pois empresas detestam-adoram estas duas premissas básicas do ser.

Empresas trabalham com a uniformidade de rendimento.

Um pouco mais, talvez, mas nenhuma gota a menos.

Claro, estou exagerando um pouco, mas da ficção vivemos hipérboles?
Exageros à parte, mas quando alguém vai para uma entrevista, segue à risca? as perguntas sobre dados pessoais ( igual a biografia seria uma resposta do entrevistado  a um tratado de auto-ficção?). Diz mais que a ficção, os empregos anteriores, elevando o teor de mito(n) dos fatos que ou não te dão, ou farão você ao pé da letra ou da fôrma. Claro que para todas perguntas, cabe uma área tão extensa quanto o Maracanã, e neste jogo entre o desconhecimento biográfico e a certeza de se está escolhendo um bom funcionário é um espaço para o retinto: a zona de um sub-texto.

O personagem narrador do novo livro do escritor Felipe Souza ( editora Patuá) retira a margem de segurança da sujeita que formula. É como se o personagem tirasse das perguntas todo lastro de uma existência não pré-correspondida há certo status quo empresarial. Felipe com a linguagem cheia de nuances, e tons que ora matizam o seu personagem como um anti-herói perante uma vida aqui tanto familiar, recorrendo as neurores que compõe este núcleo, quanto a certa preguiça Macunaímica perante ao espectro competitivo e capitalista de uma sociedade binária.

Se entre o particular e o público há toda uma matiz de cores e estados de sexualidades, pois relações ( qualquer delas) são pulsões de como nós carapaçamos nossa armadura emocional perante à força produtiva. E é justamente esta armadura que muitos usam nos seus empregos, como um blindagem quase playing actor, como um belo personagem para fins corporativos.

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