Livro de contos Uns e outros mais dois ou três desopila o leitor ( o fígado) de ler o que está ao pé da letra

 

 

FERNANDO ANDRADE

crítico literário

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O que pedir de uma narrativa breve em seu percurso, que tenha dotes de um coletivo, bons personagens, enredo conciso, desfecho amarrado e certamente abrupto com sentido.  Mas dirá certo leitor que não seja por demais formalista, que não se sinta preso numa camisa de força por ser exato e fechado em sua exata brevidade. Que tenha folga nas suas mangas; que seja folgado como um bom colega piadista que sai para almoçar no horário de trabalho com os camaradas da empresa. Que tenha tempo para o humor e para as mudanças ou danças de gêneros. Que pegue a cadeira vazia numa dança de cadeiras, e não sente, a deixe só com seus sentidos latentes,  mas prenhes de potências.

 Digo lá que fazer conto precisa-se lá de um bom papo de cronista. Do tipo deixa solto, pois espaço que cabe cá cabe também acolá. E Alexandre Brandão sabe dosar as linguagens de *uns e outros botando mais dois ou três de lambuja para preencher o riscado, que é dos bons. Parece que o autor até confunde realidade com ficção. Pois sua verve no contato de bar&papo perene parece a  mesma cartilha dos seus contos-crônicas que ele tanto publica em livro como faculta ao leitor sua prosa semanal na revista Rubens.

 O que diria dos primeiros contos da primeira seção Moços onde o universo masculino em formação viceja como um jardim em plena ebulição de terreno para o substrato que vem de uma psique que planta semente do amanhã da projeção-devir do humano em suas camadas germinativas. O lado perverso do objeto H como diria Melodia, não é o servilismo ao padrão cultural de meu filho seja homem! É se entortar  de humor, servir o corpo e alma de paródia de si mesmo. Beber de corpo e alma com o riso mais desopilante das fraquezas e mesquinharias do gênero.
Brandão parece que atua pelo riso quando bota certa piada aqui não revelada pelo crítico, que o leitor vá ler por sua própria conta ´É o Denner que vem lá”. Se a narração é desopilar o fígado, o que dirá do humor direto neste pontual conto sobre  marcações de Gêneros. Como bom retratista, Alexandre gosta de contar o relato ou enredo pelo avesso.
O tom seria sua justa medida? Aqui penso na música desafinado do Jobim que parece que pelo nome tudo sempre dará pé e nota. Pois,  aprendi com Marco Antônio Martire e Brandão que para retratar o dia-a-dia de nossa labuta brasileira é preciso desafinar, deixar tudo desafino, desatino.

Nos próximos contos, como da seção Bichos, a coisa vai se surpreendendo até pela questão formal dos contos, pegando uma ousadia como o conto o Alazão que aparentemente não tem um enredo-roteiro, mas é todo matizado pela voz de um narrador que pensa e reflete uma condição. Ou na inversão do sexo forte, “Uma questão estética”quando a mulher quer pintar o membro do marido, e este coberto de trejeitos masculinos não quer sua peça-objeto-fálico, fique assim tão exposta.
Para cada conto existe um certo universo temático e formal que o autor tece com esmero e cuidado a artesania de um bom observador da espécie humana.

* Uns e outros mais dois ou três

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