A obra 40 poemas de Alexandra Vieira de Almeida, nos apresenta, através de sua composição densa, a natureza do ser humano

 

 

A obra 40 poemas de Alexandra Vieira de Almeida, pela (Penalux, 2019) nos apresenta, através de sua composição densa, a natureza do ser humano. Através de cada palavra, usada por meio de composições livres, a autora nos penetra a alma e deixa as impressões de uma realidade crua, as quais, por vezes, não percebemos ou não podemos perceber.

Ao ler 40 poemas, nos adentramos a um universo, no qual, diariamente, o lado sombrio, melancólico e porque não dizer, real de cada ser se expande e mostra que a vida não são somente rosas, até porque as rosas, apesar de sua beleza, possuem espinhos. Alexandra Vieira de Almeida, nos trás a face, o lado oposto da beleza humana, pois, por meio de cada palavra, de cada frase lida, projetamos em nossa mente uma imagem poética única.

Por vezes essas imagens se confundem com nosso cotidiano, pois vemos nosso ser, nosso sentir, nosso agir, como se fossem projetados na leitura de cada poema. A autora consegue trazer certo desconforto a nossa realidade, desconforto esse que muitos escondem, esquecem e poucos são fortes o bastante para expor.

Essa exposição é notada pela leitura do poema ‘A dor não derruba os santos’, onde a autora mostra que somos feitos de carne e ossos e que, como seres humanos, exalamos dor, amor, tristeza entre tantos outros sentimentos que se possa adjetivar.
Vemos isso quando ela nos coloca que “A dor é uma agulha sem tinta / não colore nada à sua volta / Preciso de agulhas coloridas/ para atiçar a minha cólera / que perpassa à vista / de tramas insolventes”.

A melancolia do cotidiano, que diariamente nos afeta, nos despedaça, nos faz projetar uma força que nem sabemos que existe em nós, para sobrevivermos nessa selva cotidiana, onde um “mata” o outro por motivos torpes. No poema ‘Cemitério sentimental’, conseguimos ver tais sentimentos, por meio das palavras da autora em “Corro, corro, como puder, as altas / grades me cercam, avistando prisões / de cúpulas abertas. Se ele vier, se ele vier, / asas brancas de ceras recortadas por tesouras / que consomem os anos e os corpos dos mortos, / deitados em redes de linho de negros fios / no cemitério de meus sonhos de vigília”.

Alexandra Vieira de Almeida, consegue pelo dedilhar de suas palavras, como se fossem canções em uma cena de um filme, nos mostrar que nossas vidas apesar de serem muitas vezes bela e plana, possuem falhas. Pela leitura de sua obra, nos projetamos do outro lado da janela como meros espectadores, onde observamos a vida alheia, e por isso, vemos que nossa realidade nem sempre é tão bela como a que apresentamos diariamente. É como aquele velho ditado ‘A grama do vizinho é sempre mais verde’.

Mas podemos ver que essa realidade que por vezes projetamos, não se faz real.
Podemos perceber isso no poema ‘Paisagem da madrugada’ onde vemos essa realidade dividida em quatro atos. Para muitos essa realidade pode ser considerada distorcida, como podemos ver em “Esqueletos brincalhões fazem / cócegas na vacuidade dos lençóis, / trôpegos poços finos. Destoam / cânticos das paredes flácidas, / tácitas madrugadas de ácidos / encorpados nos tapetes verdes / do inconsciente”.

Ler a obra  de Alexandra Vieira de Almeida, nos remete a sensação de liberdade, pois nos libertamos das algemas de uma vida camuflada. Ao expor por meio de palavras densas em uma escrita livre que somos seres humanos, que embelezamos a dor, o sofrer, podemos ver que todos somos feitos de erros e acertos, sendo que isso não é ruim, pelo contrário. Isso nos mostra que o ser humano é real e precisa viver sua plenitude de o ser.

 

 

 

 

 

marcelo frota resenha1 300x300 - A obra 40 poemas de Alexandra Vieira de Almeida,  nos apresenta, através de sua composição densa, a natureza do ser humanoMarcelo Frota é professor e tradutor. Nascido no Rio Grande do Sul em 1979, é apaixonado por cinema, literatura e música e tem apreço especial pelo jazz e pelo blues, sem deixar de lado o rock clássico e a chanson francesa. Considera-se um cinéfilo devoto e apaixonado pelo cinema europeu, americano, latino-americano e brasileiro. No seu coração literário os espaços são ocupados por autores que vão de Shakespeare a Saramago, sem nunca abandonar os romances policiais baratos, a ficção científica e a poesia marginal. 

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