FERNANDO ANDRADE
jornalista e crítico literário
Walter Macedo Filho reuniu 7 contos que alinhavou num stand-up de drama, O fim da Psiquiatria, falando das crises do homem contemporâneo. Dirigido por ele, são textos enxutos e bem trabalhados no seu cerne dramático, onde 4 atores ( duas atrizes e dois atores) dividem situações-cenas envolvendo conflitos internos como depressão, angústia, certas pulsões perversas, como no primeiro texto que dá nome ao espetáculo, Fim da psiquiatria, onde um ator, Rubens Camelo, ótimo, dá vida ao um homem que retira da internet informações para amputar um gato; neste território sem lei onde as informações são pegas e usadas sem qualquer filtro ético.
Os textos seguintes balizam questões sobre culpa, paranoia, onde os personagens se vêem pequenos perante uma quantidade de informações diria infinitas, não sabendo como controlá-las, através do afeto. As relações como diria Baumann se tornam líquidas pelo seu caráter, flutuante, onde o sintoma, não cabe no diagnóstico médico apenas, já que a internet facilitaria uma intervenção sobre o atuar sobre si mesmo, no individual do homem.
Em outra cena uma personagem, Nina Rodrigues numa cadeira de rodas, expele um discurso sobre doença, toda uma consideração psíquica de si. Nossos espelhos pós-modernos estariam distorcidos ao espectrar medos? Recalques do mundo envolto\entorno que nos engole e não admite metabolização digna.
Cabe salientar aqui os cenários bem utilizados, facilitando a compreensão e carpintaria dramática, e também o gestual dos quatros atores. A direção de Walter nunca é desmedida ou em excessos, dinamiza uma interioridade que prioriza o self envolto na bolha de uma sociedade capitalista-esquizo.
O fim da psiquiatria
Texto e direção: Walter Macedo Filho
Elenco: Adriana Karla Rodrigues, Nina Rodrigues, Daniel Bouzas e Rubens Camelo
Toda segunda às 20 horas no teatro café Pequeno no Leblon durante o mês de Setembro.
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