Livro 40 poemas descarrila a sequência lógica da existência numa operação simbiótica e simbólica

 

 

FERNANDO ANDRADE

jornalista e crítico literário

 

Poderíamos dizer que uma imagem cinematográfica tem estrutura frasal como palavras a correr soltas pela tessitura imagética. Se abolíssemos o som do áudio de um filme o que reteríamos do seu sentido? Imagens falam por sim mesmas? Uma imagem vale mais do que mil palavras. Na estrutura poética temos esta semiologia entre a palavra e a imagem que procria delas como um certo sexto sentido. O surrealismo foi uma cria do inconsciente onde da mente humana brotavam as relações entre culpa e redenção, entre medo e coragem. Os sentimentos humanos falavam não por frases, mas por sínteses imagéticas que derivavam na linguagem cifrada dos sonhos. Dormir seria uma forma de apagamento do real, e por conseguinte, uma entrada na caverna dos símbolos da não-existência visiva.

Quando falamos em linguagem normativa criamos uma série de signos que denotam estados e ações. Faça isso, por favor. Uma semântica de ordem, que estabelece relações de alteridade entre o emissor e receptor. Assim como no cinema esta imperatividade é um tanto, às vezes, fascistas, pode se inverter a  lógica e seu sentido. Podemos ter uma sequência de imagens num filme que opere certa latência violenta não traduzindo uma violência explícita. É o que se fala por imagens ou por metáforas.

O livro novo da poeta Alexandra Vieira de Almeida, 40 poemas, Editora Penalux, seria um ótimo exemplo de tradução por uma semiologia por imagem, aqui não cabendo categorizar que tipo de imagens seriam o cabedal de sequências oníricas ou não que a poeta cauda em seus versos. Alexandra com boa torneadora da linguagem simbólica deixa o frêmito ou jorro de associações de sentidos que enovelam de um certo descarrilamento de direção ou rumo para qual o eixo e sua sucessão de correlações de sintaxes e imagens possam se categorizar em algum tipo de estilo ou veia poética.

Ela se deixa levar tanto pelo som de aliterações como certo frame para elipses que cortam sentidos ao meio, operando a linguagem como uma intermitência de enigmas. Traduzir é puxar para uma outra operação, como um matemático quisesse ordenar o mundo com uma equação exponencial. Traduzir seria buscar equivalências de outros signos e símbolos para um outro meio de mensagem. E neste jogo lúdico entre meios linguísticos que parafraseiam os filósofos e/ou cientistas que Alexandra opera suas derivações.

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